segunda-feira, 3 de maio de 2021

SERÁ O FIM, SERAFIM? OU: A 2ª DEGLUTIÇÃO DO ANTROPÓFAGO OSWALD DE ANDRADE (MUITOS ANOS APÓS O SEU PASSAMENTO)

  

 (Eiffel Tower - Robert Delaunay)

PEÇA EM UM ATO

 

ISAIAS EDSON SIDNEY

 Tel.(11)5011-9628

 

1999

SBAT – 1347 (11.10.2000)

FBN – 214.052; livro 373, folha 212

 


 

 

PERSONAGENS

 

1.   OSWALD DE ANDRADE

2.   MÁRIO DE ANDRADE

3.   MENOTTI DEL PICCHIA

4.   ANITA MALFATTI

5.   TARSILA DO AMARAL

6.   FANTASMA DO OSWALD

7.   MONTEIRO LOBATO

8.   MÃE DO OSWALD

9.   APRESENTADOR DE LUTA DE BOXE

10. OLAVO BILAC

 

ÉPOCA

Início do século, nas décadas de 10 e 20.

LOCAL

 Cidade de São Paulo.

 

SUGESTÕES MUSICAIS

 

  • abertura: Fala meu Louro, de Sinhô (José Barbosa da Silva), gravação de Francisco Alves, 1919 
  • durante a peça: Villa Lobos, Eric Satie e Darius Milhaud
  • cena do carnaval: Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga

·    encerramento: Geléia Geral, de Gilberto Gil

 Blackout. Ouve-se o barulho de corpo caindo e, em seguida, um choro de bebê. Luz sobre Oswald, gordo, grande, de fraldas e chupeta, cara pintada de preto.

 

OSWALD:- Doeu, mãe... Doeu... (Chora de forma ridícula). Eu sabia... eu sabia que não ia dar certo, mãe...

  

Olha para cima. A mãe tem uma altura imensa. Vestida de preto até o chão. Segura um terço.

 

 

MÃE:- Meu filho! Você chegou, meu José... meu José Oswald... meu neném... Agora você será meu neném... meu neném... Nonê! Apenas Nonê... Você está bem, meu Nonê? Fala pra mãezinha, fala...

 OSWALD:- Que diacho de Nonê é esse, mãezinha... Doeu... Eu disse pra senhora que esse negócio não ia dar certo... Eu disse... Agora eu tô aqui que nem Macunaíma, minha mãe... pretinho ainda por cima... Esse negócio de nascer como Macunaíma é coisa daquele desvairado do Mário, minha mãe... É coisa de cinema, pro Grande Otelo fazer... não eu, mãezinha... nascer assim... Que merda!

 MÃE:- Não fala palavrão, Nonê... vai já lavar a boca com sabão... É essa escola Modelo Caetano de Campos que não presta... não ensina religião... não ensina os mandamentos... Vai já pro Ginásio Nossa Senhora do Carmo aprender os mandamentos...

 OSWALD:- E eu vou virar branco, minha mãe? Eu vou crescer e virar nobre... É isso? Se for bonzinho, eu vou virar barão... vou virar quatrocentão?

  

Aparece o Fantasma de Oswald.

  

FANTASMA DE OSWALD:- Que vergonha, seu Oswaldinho... que vergonha!... Querendo ser nobre num país de pobre! Nunca podia imaginar que o diabo fosse assim tão feio... que nem quiabo...

 OSWALD:- Quem... quem... quem é você... Parece um fantasma!

 FANTASMA DE OSWALD:- Eu sou você amanhã...

 OSWALD:- Como se não bastasse nascer assim... ainda sou obrigado a ouvir slogan que ainda nem foi inventado...

 FANTASMA DE OSWALD:- Pois é... sou você, sim... Mais sábio do que você foi... Como fantasma, vi e aprendi um monte de coisas assim, seu Serafim... coisas do fim do mundo, seu Raimundo... Sei até o que é avião a jato, e nada de bromato nem noz vômica, mas bomba atômica e sabe o que mais?... se é que me entende... naveguei com Marinetti...  nas ondas da Internet...

 OSWALD:- Pára... pára com essa palhaçada... Vamos começar de novo essa peça, porque eu não estou entendendo nada... Além do mais, esse negócio de fantasma é coisa daquele inglês... o tal do Shakespeare... E eu não tenho vocação pra tragédia... nem estou a fim de rezar pela cartilha dele...

 FANTASMA DE OSWALD:- Ele não deixa pra depois e logo baixa o espírito de 22...

 OSWALD:- Olha aqui seu fantasma de pô... (olha para a mãe)... de coisa nenhuma...

 

 O Fantasma faz uma  mesura e apresenta-se.

  

FANTASMA DE OSWALD:- José Oswald de Sousa Andrade, filho de Inês Henriqueta de Sousa Andrade e de José Oswald de Sousa Andrade, com muito orgulho, nascido na rua Barão de Itapetininga, em 1890... um seu criado...

 OSWALD:- Mas que petulância... Um fantasma querendo ser eu! Fora! Fora daqui... Essa peça é minha e não quero saber de fantasmas! Fora!

 

 Oswald expulsa o fantasma e volta-se para a mãe.

 

 OSWALD:- E a senhora, desce daí e me ajuda a tirar essa pô... porcaria da cara, que eu quero virar branco já, pra estudar no Colégio de São Bento e inventar o Brasil...

  

Enquanto a mãe desce e vira normal, entram alguns atores cantando a música “Quem foi que inventou o Brasil... Quem foi que inventou o Brasil... Foi seu Cabral, foi seu Cabral”.... Oswald imita-os de forma caricata e raivosa.

  

OSWALD:- “Quem foi que inventou o Brasil? Quem foi que inventou o Brasil?” Que droga! Toda vez que falam do Modernismo, da Semana de 22, vêm uns babacas cantando essa porra.... desculpe, mãezinha! Eu não agüento isso!... EU NÃO AGÜENTO ISSO! Fora! Fora! Canalha ignorante! Vocês não sabem nada de nada!... E eu também não sei pô... porcaria nenhuma...

  

Expulsa todo mundo. Limpa o rosto e começa a vestir-se como Oswald de Andrade. Fala com a mãe, recitando trechos do Salmo 90.

 

 OSWALD:- “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração...”

 MÃE:- Vai, meu filho, vai conhecer a Europa...

 OSWALD:- “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus...”

 MÃE:- Deus não permitirá que nada lhe aconteça, meu filho...

 OSWALD:- “Tu reduzes o homem à destruição: e dizes: Volvei, filhos dos homens. Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite”.

 MÃE:- Deves seguir sempre o caminho do Senhor...

 OSWALD:- “Tu os levas como corrente de água: são como um sono: são como a erva que cresce de madrugada, de madrugada cresce e floresce: à tarde corta-se e seca...”

 MÃE:- Guarda sempre contigo esta imagem de Nossa Senhora Aparecida... Ela te protegerá...

 OSWALD:- “Pois somos consumidos pela tua ira, e pelo teu furor somos angustiados...”

  

A Mãe vai-se afastando e desaparecendo pouco a pouco, morrendo.

  

MÃE:- Nas tuas cartas de Paris, meu Nonê...

 OSWALD :- “Pois todos os nossos dias vão passando...

 MÃE:- ... não te esqueças...

 OSWALD:- ...na tua indignação; acabando-se os nossos anos...

 MÃE:- ... dá sempre graças a Deus...

 OSWALD:- ...como um conto ligeiro”...

 MÃE:- ... em teus atos...

 OSWALD:- Não te esquecerei nunca, minha mãezinha querida...

  

Oswald ajoelha-se.

  

MÃE:- ... em tua vida...

 OSWALD:- “Senhor de Pirapora! Esculpirei o vosso milagre para a Sala das Graças!...

 MÃE:- ... dá sempre graças a Deus...

 OSWALD:- “Subirei de joelhos o vosso altar carregando-a”...

 MÃE:- ... e eu estarei...

 OSWALD:- “A duração de nossa vida é de setenta anos... e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos...

 MÃE:- ...estarei... sempre contigo... meu filho...

 OSWALD:-... o melhor deles é canseira e enfado...”

 

 Despede-se da mãe com gestos, volta-se para o público e prossegue, com irreverência.

  

OSWALD:- “Já estive diversas vezes na Aparecida/ Onde há uma velha luta/ Que é uma antiga disputa/ Entre duas casas comerciais/ Que querem ao mesmo tempo ser/ Na ladeira de sol/ A Verdadeira Casa Verde...”  Depois do luto, a luta... É preciso reinventar o Brasil... Sem aquela basbaquice do seu Cabral...

 

 Entra Mário de Andrade, com uma cartola nas mãos.

 

 

OSWALD:- Mário de Andrade, o meu poeta futurista!... Velho amigo...

 MÁRIO:- Velho amigo?? Estamos em 1915: não nos conhecemos ainda!

 OSWALD:- Tempo!?... Mário, o tempo não importa: é preciso quebrar a unidade de tempo! O que é isso?

 MÁRIO:- A Cartola de Pandora!

 OSWALD:- Caixa... você quer dizer Caixa de Pandora...

 MÁRIO:- Comi a caixa e vomitei uma cartola.

 OSWALD:- Gênio! Você é um gênio, Mário... E eu ainda nem inventei a antropofagia!...

 MÁRIO:- Alto lá, senhor Oswaldo! Quem inventou a antropofagia foi o bispo Sardinha...

 OSWALD:- Inventou de dentro... de dentro... Aqui fora, serei eu, ouviu? Não me venha com essa sua lógica de professor de música... Detalhes, tudo detalhes... O que eu quero mesmo saber é o que você vai tirar dessa cartola. Martim Cererê? Juca Mulato? Ou a Cobra Norato?... Macunaíma, talvez!...

 MÁRIO:- Tão viajado... e tão preso à imaginação delirante de teatros absurdos! Veja: vou tirar um coelho... o Coelho Neto!

 OSWALD:- Mas isso é um urubu!!! Já sei: o urubu do Edgar Allan Poe!

 MÁRIO:- ... e vou tirar, também... um... um... POETA PARNASIANO!

  

Mário tira um crânio da cartola.

  

MÁRIO:- Eis aí o teu Bilac... O teu amado Olavo Bilac...

 

 Destaca-se o poeta Olavo Bilac, de cartola e cetro. Oswald arroja-se a seus pés, beija suas mãos e discursa, intercalando o seu discurso à declamação delirante e irônica do ator/ Mário de Andrade. Música num crescendo até suplantar as vozes e terminar tudo numa grande confusão.

 

 MÁRIO:- “Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia/ Assim!...

 OSWALD:- O símbolo da resistência republicana...

 MÁRIO:- ... de um sol assim!/ Tu desgrenhada e fria/ Fria!

 OSWALD:- ... o educador emérito de tantas gerações...

 MÁRIO:- ... postos nos meus os teus olhos molhados,/ e apertando nos teus os meus dedos gelados...

 OSWALD:- ... o líder de campanhas cívicas em prol do serviço militar obrigatório...

 MÁRIO:- E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera/ Toda azul, no esplendor do fim da primavera!

 OSWALD:- ... reserva moral da nação...

 MÁRIO:- Asas tontas de luz, cortando o firmamento! / Ninhos cantando! Em flor a terra toda!

 OSWALD:- ... um poeta universal nos sentimentos que emanam de uma obra única...

 MÁRIO:- E eu morrendo! e eu morrendo / Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu...

 OSWALD:- ... o príncipe dos poetas brasileiros...

 MÁRIO:- ... e vendo / Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, / A delícia da vida! A delícia da vida!

  

Oswald pega o crânio deixado pelo ator/Mário de Andrade. Chega Anita Malfati.

 

 

OSWALD:- Cavalgadura que eu sou... não sei o que quero... Ou melhor, eu sei o que não quero.

 ANITA:- Vim da Europa... como você... Lá, os movimentos antiacadêmicos já grassam...

 OSWALD:- Você tem razão, minha cara Anita... minha cara Anita Malfatti... Chega de parnasianos... Fora Olavo Bilac e Coelho Neto... Fora com o romantismo penumbrista de idiotas tísicos e suas musas esquálidas...

 ANITA:- Fora com a pintura bem comportada de salões parisienses cheirando a pó-de-arroz e a mofo! É preciso cantar o progresso...

 OSWALD:- ... a máquina... o automóvel... a velocidade! Marinetti! Não, Marinetti não: esse fascista não me pega com seu futurismo preconceituoso. É preciso valorizar a mulher...

 ANITA:- Minha exposição de quatorze... vendi alguns quadros... era ainda meio acadêmica... Quero a sua crítica na próxima... em dezembro... Você virá... me diz, Oswald... você irá vê-la?

 OSWALD:- Será nova? Será uma arte nova?... pura, límpida... internacional e ao mesmo tempo brasileira?...

 ANITA:- Estou procurando as raízes, as cores de nosso povo... meio cubista, talvez... Ainda um tanto Europa... mas acho que vou mexer com os passadistas...

 OSWALD:- Raízes, Anita! E mais: estilo telegráfico... negritude... raça... Vamos  enterrar o passado... Preciso de um fio condutor! Preciso de um motivo! Dê-me um motivo e eu movo o mundo! Horrível isso, passadista, mas é o que me ocorre... Preciso de uma causa... Quem pode me dar uma causa?

  

Entra Menotti del Picchia, esbaforido, com um jornal nas mãos, onde se lê a manchete em letras propositadamente enormes: PARANÓIA OU MISTIFICAÇÃO?

 

 

MENOTTI:- Oswald, Oswald... Veja! Veja o que fizeram com Anita...

 

 

Enquanto Oswald lê aos borbotões trechos do artigo, o espaço transforma-se na redação do PIRRALHO, com todos agitados, escrevendo a máquina, correndo de um lado para o outro, numa grande confusão.

 

 

OSWALD:- Canalha! Ouça o que ele escreveu, ouça...

 LOBATO:- ... nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação...

 OSWALD:- Imbecil! O que esse idiota entende de artes plásticas, me diz... Ouça o que o imbecil está dizendo...

 LOBATO:- ... não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura...

 OSWALD:- É preciso reagir!

 LOBATO:- ... a exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia...

 ANITA:- Estou acabada, Oswald... Minhas mãos tremem... Jamais pegarei num pincel novamente...

 OSWALD:- O lobo Lobato ensandeceu... Você tem que ser mais forte do que isso, Anita...

 LOBATO:- ... futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural...

 OSWALD:- Está gagá... Está sofrendo de gaguice precoce... isso é um absurdo... Vamos reagir... É preciso defender a nossa pintora... Anita não merece isto!

 LOBATO:- Na poesia também surgem, às vezes, furúnculos desta ordem, provenientes da cegueira nata de certos poetas elegantes, apesar de gordos, e a justificativa é sempre a mesma: arte moderna.

 OSWALD:- Isto é comigo, só pode ser comigo, ele está me chamando de furúnculo, de cego e de gordo!  É o que nos faltava... Às trincheiras! À luta! Esta é a nossa causa!

 MENOTTI:- O que faremos, Oswald? O que faremos? Além, é claro, de rebater todas essas injúrias através dos jornais que temos à mão?

 OSWALD:- Não sei... não sei... Talvez... quem sabe... uma luta de boxe... um duelo... É isto... vou desafiá-lo para um duelo!

 TODOS:- Duelo? Mas que coisa mais passadista, seu Oswald!!!

 OSWALD:- Não um duelo de capa e espada... Mas uma luta de boxe... é isto, uma luta de boxe... ao som de jazz... ao som de um blues... em que os golpes serão palavras: vou-lhe dar um “uper” com a indústria que nasce, um direto com o progresso de São Paulo...

  

Arma-se um ringue para a luta, que deve ser caricata, como a luta entre dois palhaços. Um chefe de cerimônias imita os americanos na apresentação dos contendores.

 

 APRESENTADOR:- Ladies and gentlemen... Here, isto é, aqui... neste palco... digo... nesta arena... a luta do século! À minha esquerda, o desafiante: José Oswald de Sousa Andrade, o... o... Nonê! Paladino do futurismo... Ih! Ih! Paladino... esta é boa, não é mesmo? (Oswald olha-o furioso). À minha direita, José Renato ou José Bento Monteiro Lobato, o defensor da tradição... da família paulistana... da moral e dos bons costumes! O marido de dona Maria Pureza! O campeão do tradicionalismo... o inventor do regionalismo... o grande criador de O Jeca Tatu... representante máximo de nossa brasilidade! E o juiz dessa refrega, ladies and gentlemen, o juiz será o mais imparcial de todos... o mais honesto... aquele que não tem nenhuma preferência... eu mesmo! Que comece a luta... Primeiro round!

  

Atabalhoadamente, Oswald parte para cima de Monteiro Lobato.

 

 

OSWALD:- Modernismo ou porrada, seu Jeca Urubu...

 LOBATO:- Tatu... seu futurista... Tatu!

OSWALD:- Tatu... brucutu... pirarucu... É tudo do mesmo cu... Urubu-carniceiro...

 LOBATO:- Este é pela família paulistana injuriada... com essas infâmias...

 OSWALD:- E este é pela Anita Malfatti...

 LOBATO:- Este é pelo Brasil brasileiro...

 OSWALD:- O meu Brasil também é brasileiro... e globalizado!

 

 

Lobato pára a luta e encara-o com espanto.

 

 

LOBATO:- Globalizado???!!! Que merda é essa?

 OSWALD:- Esquece! Ato falho! (Dá-lhe uma porrada). A arte, seu Zeca Urubu, não tem fronteira!

 LOBATO:- Entreguista!

 

 

Oswald pára a luta e encara-o com espanto.

 

 

OSWALD:- Entreguista???!!! Que bosta é esta?

 LOBATO:- Esquece! Ato falho! (Dá-lhe uma porrada). A arte, seu Nonê, está nos pés rachados dos colhedores de café e não nos salões da França!

 OSWALD:- Integralista!

  

Lobato pára a luta e encara-o com espanto.

 

 LOBATO:- Integralista???!!! Que porra é esta?

 OSWALD:- Esquece! Ato falho!

  

Desta vez, Lobato desvia-se e acerta Oswald com um golpe baixo. Oswald cai já meio grogue.

 

 OSWALD:- A sua arte é essa sacanagem, seu Lobo Lobato? Destratar pobres pintoras? Xingar as damas? É essa a sua arte? Você ainda vai se arrepender, seu Lobo Lobato...

 LOBATO:- A primeira vitória é minha!...

  

Apresentador conta até dez e dá a vitória a Lobato, sob vaias e protestos. Oswald fica só. Retira as luvas e começa a elaborar um poema.

 

 OSWALD:- “Sentados num banco da América folhuda...” (Conta as sílabas nos dedos). Sen...ta... dos... num... ban... co... seis sílabas... dA... mé... ri... ca... fo... lhu... mais seis sílabas... Seis com seis, doze... Doze sílabas... um alexandrino, mas de pé quebrado... Merda! Deixa assim mesmo, por enquanto... Agora uma rima... preciso de uma rima para “folhuda”. Vejamos: o que rima com “uda”?  “Chuva?” Droga: é “uda” e não “uva”... “Expluda?”, não isso não existe... “Buda?” Seria forçar demais... “Bunduda”? Os críticos iam me massacrar... Até que seria engraçado... “Bo... bo... chechuda!” Também não serve... Droga... Vou fazer assim mesmo: “Sentados num banco da América folhuda/ O cowboy e a menina/ Mas um sujeito de meias brancas/ Passa depressa/ No Viaduto de ferro”.

  

O Fantasma reaparece.

  

FANTASMA DE OSWALD:- Sem métrica, sem rima... o que será que vão dizer os parnasianos, hem, seu Nonê?

 OSWALD:- Não! Você de novo, não! E pare de me chamar de Nonê! Nonê é o meu filho!

 FANTASMA DE OSWALD:- E essa cara rosada, toda amassada? Foi atropelado por um bonde? Onde? No cu do conde? Ou bateu aquele lindo carro – que é um sarro?

 OSWALD:- Chega de métrica! Chega de rima! Odeio tudo isso! Quero liberdade, ouviu, seu fantasma... Liberdade!

 FANTASMA DE OSWALD:- Você é rico, seu cara de penico! Foi às estranjas... pegue a galinha... faça canjas... muitas canjas!

 OSWALD:- O que você quer dizer?

 FANTASMA DE OSWALD:- Reúne o teu povo... faça algo novo... um carnaval! Arlequinal! Em 22, não depois, em 22: um movimento pra jogar no ventilador a rima de amor com dor... pra jogar no lixo anêmico tudo que é acadêmico...

 OSWALD:- É isso... il faut crier... à tout le monde... il faut épater le bourgeois... quelque chose de nouveau...

 FANTASMA DE OSWALD:- Ladies and glentlemen...you are not understanding nothing... vocês não estão entendendo nada... não é verdade? O homem... ou melhor, eu mesmo... (esse negócio de ser fantasma ainda me confunde um pouco)... nós éramos chegados num francês... Até que o Oswald... eu... já gostava um pouco do jazz... cheguei até mesmo a arranhar um pouco o inglês... Mas isso agora não importa, não é mesmo, seu cara torta! Épater le bourgeois! Espantar! Chocalhar! Bagunçar!

 OSWALD:- Péra aí, seu fantasma... Por que em 22? Por que só em 22?

 FANTASMA DE OSWALD:- Ora, ora, ora... seu, Nonê... então não vê? Você não disse agora mesmo, seu cara de torresmo, que é preciso gritar? Então, o grito! O grito!

 OSWALD:- Entendi: o grito do Ipiranga! Cem anos de independência...

 FANTASMA DE OSWALD:- Independência o... o... deixa pra lá... Antes disso... ou melhor, depois disso, que tudo isso não tem ordem nem progresso, pra você, seu Nonê, como tiro da cartola um coelho, um grande conselho: faça da tua vida a tua grande obra modernista!

  

O Fantasma desaparece. Oswald fica um instante pensativo. Anda de um lado para o outro como se procurasse entender alguma coisa.

 

 

OSWALD:- Tenho uma vida inteira para uma obra... Ora, que fantasma idiota!

 

 

Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Anita Malfatti.

 

 

MENOTTI:- Eu apóio... a idéia não podia ser melhor...

 MÁRIO:- Sei, não, meu caro Menotti... sei, não... depois vão dizer que somos... sei, lá... paranóicos...

 MENOTTI:- Deixa de ser medroso, Mário... Jogo meu Juca Mulato no fogo, se não der certo!

 MÁRIO:- O que você acha, Anita... você que foi, vamos dizer, a que deu a cara pra bater...

 ANITA:- E bateram, Mário... bateram forte...

 MENOTTI:- Por isso, a reação...

 ANITA:- Minha obra... minha obra pictórica não vai parar por causa das opiniões de um... de um crítico que não conhece pintura... um pintor medíocre...

 MÁRIO:- Você ainda está magoada...

 ANITA:- Magoada? Destruída... você quer dizer...

 MENOTTI:- ... a idéia é genial... lavamos a honra de Anita... e damos uma aula de modernidade...

 MÁRIO:- Depois que o Coelho Neto disse que é com poemas como Juca Mulato que havemos de romper caminhos no mundo...

 MENOTTI:- Está me acusando de passadista... está?

 MÁRIO:- De repente... me veio a idéia de que tudo não passa de veleidades burguesas de rapazes burgueses... dessa nossa sociedade conservadora...

 ANITA:- Calma, gente... Calma! A ofendida aqui sou eu... Não tenho certeza de que quero ser defendida... Talvez minha arte...

 MENOTTI:- Não, Anita... nada de derrotismo... sua arte é primeiro mundo... é França... é Paris! É hoje!

 MÁRIO:- Quem vai participar?

 MENOTTI:- Todo mundo... todo mundo vai participar...

 MÁRIO:- E quem é o todo mundo mais importante?

 MENOTTI:- Estão falando no Graça...

 MÁRIO:- Graça... Graça Aranha?!!! Essa, não! Esse cara só quer aparecer... Viu meia dúzia de exposições na Europa e já se julga futurista!

 MENOTTI:- Pelo menos, viu... na Europa...

  

Mário ameaça partir pra cima de Menotti. Anita o contém.

  

MENOTTI:- E nada de futurismo... nada de futurismo!...

 ANITA:- Cubismo, talvez... Talvez, surrealismo... ou dadaísmo...

 MENOTTI:- Dadaísmo?

 ANITA:- É: dadaísmo... nada de lógica... liberdade total... arte não é coisa séria!

 MENOTTI:- Taí... gostei... linguagem de videoclipe... MTV... rock’n roll...

 MÁRIO:- Vocês enlouqueceram... Enlouqueceram de vez! Mas eu topo! Vamos a esta Semana de Arte Moderna... com todos os passadistas de plantão! Vamos plantar bananeiras na terra de Tio Sam!

 ANITA:- Você quer dizer na terra de tio Marinetti... do tio Salvador Dalí... do tio Picasso...

 MÁRIO:- Demolir os museus! Botar fogo nas bibliotecas!

 MENOTTI:- Isso mesmo! Anita começou uma revolução!

 MÁRIO:- Pensaram que falava sério? Pensaram? Caíram do cavalo... Tô fora... Euzinho aqui não embarca nessa piroga furada nem morto...

 ANITA:- Ora, Mário... logo você, um cara aberto a novas idéias...

 MÁRIO:- A novas idéias... não a loucuras... Em todo caso, prometo estudar... Veremos, veremos...

  

Oswald chega de repente.

  

OSWALD:- Embarca, embarca, sim... meu caro poeta futurista...

 MÁRIO:- Futurista é a... (Menotti tapa-lhe a boca).

 OSWALD:- Agora me apresenta aquela pintora que acabou de chegar de Paris... uma tal de Tarsila... dizem que é um pitéu... e talentosa também...

  

Entra Tarsila do Amaral, linda, trazendo uma réplica de O Abaporu.

 

 OSWALD:- Eu fui o maior onanista de meu tempo/ todas as mulheres/ dormiram em minha cama/ principalmente cozinheira/ e cançonetista inglesa/ hoje cresci/ as mulheres fugiram/ mas tu vieste/ trazendo-me todas no teu corpo... Uma deidade desceu à terra... preciso tomar um capilé... ou dançar um tango...

 

 Oswald toma Tarsila nos braços e dançam.

  

OSWALD:- Comeremos a vida inteira no mesmo prato! Em Paris, na Espanha ou Portugal, na França ou no Oriente, comeremos sempre no mesmo prato... Tu darás novas cores e novas formas ao Brasil e eu... eu inventarei para ti a antropofagia... E serei o primeiro tupi a ver as primeiras caravelas trazendo muita comida congelada da Europa! Farei por ti uma página na Internet e serás a maior pintora do Brasil...

  

Ambiente de descontração, típico de um bar, com Anita Malfatti, Menotti del Picchia e Mário de Andrade. Muitas risadas e clara “paquera” de Oswald em relação a Tarsila.

  

TARSILA:- Sou apenas a caipirinha de São Bernardo, senhor Oswald. O circuito das artes... ainda não o trilhei todo. Paris... la Tour Eiffel... Você conhece os cubistas, senhor Oswald?... Ah! Os cubistas... Robert Delaunay e suas torres... a  Torre Eiffel despencando... um terremoto... Delaunay sentiu o delírio do desenho... um escândalo para os rotineiros...

  MÁRIO:- Tarsila!!!... Beijo as mãos da mais bela pintora do Brasil e a mais talentosa também... Você não acha, Oswald, você não acha?

 OSWALD (sem disfarçar o ciúme):- Jamais duvido de seu senso crítico, meu caro poeta futurista...

 MÁRIO:- Fale baixo, se ouvem você dizendo isso, vão pensar que assumimos o futurismo e aí...

 OSWALD:- Já sei: estaremos fo... desculpe, madame... fritos...

 TARSILA:- Meu caro poeta, o modernismo está definitivamente implantado... é irreversível...

 MÁRIO:- Mas sem futurismo... sem futurismo...

 TARSILA:- Cubismo, talvez...

 OSWALD:- Pau... pau-brasilismo...

 MÁRIO:- Contenha sua libido, Oswald...

 TARSILA:- Nosso amigo Oswald... sempre com uma blague... Imagina que ele me disse que colocou o nome no filho dele de Lança-Perfumes Rodo-Metálico... por causa do Carnaval... é um louco, não é mesmo?

 

 Mário, eufórico, junta as mãos de Tarsila e Anita.

 

 MÁRIO:- Aqui estão as mãos que vão desenhar o novo Brasil...

 OSWALD:- Um brinde... um brinde ao talento e à formosura de nossas maiores pintoras!

 OSWALD:- E o nosso Juca Mulato... o que acha de tudo isso?

 MENOTTI:- Juca Mulato, não! Menotti del Picchia, o tabelião! Tabelião e poeta ou... Poeta e tabelião! Só quero fazer um protesto: não entendo por que escolheram esse boteco nesse fim de mundo...

 ANITA:- Concordo com o Menotti... isso aqui é muito longe... não entendo...

 OSWALD:- Entenderão... entenderão já... por que escolhemos, Tarsila e eu, esse bar em Santana... Aqui se servem as melhores rãs do Brasil... ou do mundo...

 MENOTTI:- Rãs?

 ANITA:- Aquelas... coisas?

 MÁRIO:- Rãs! Rãs saltadoras... batráquios! Que vivem nos brejos...

  

Mário, eufórico, rompendo sua normal timidez pula e coaxa como uma rã. Todos riem muito.

  

OSWALD:- Bela rã, seu Mário... bela rã, o senhor me saiu... Eu aqui seria... um sapo... um sapo-boi... do poema do Manuel Bandeira na Semana... Lembram-se?

  

Arma-se uma espécie de pândega para representar a Semana de Arte Moderna, a começar com Mennotti que declama caricatamente. Oswald a tudo assiste, às vezes encantado, às vezes um tanto sério, mas sempre muito atento ao menor gesto de Tarsila.

  

MENOTTI:- “Clame a saparia/ Em críticas cépticas:/ Não há mais poesia,/ Mas há artes poéticas.../ Urra o sapo-boi:/ - Meu pai foi rei – Foi!”

 TODOS:- “Não foi! – Foi! – Não foi!”

 ANITA:- E as galerias urravam... vaiavam... batiam pés...

 MENOTTI:- E o nosso Villa Lobos... o grande maestro...

 MÁRIO:- ... entrou de chinelos para reger o concerto...

 TARSILA:- De chinelos? Que coisa estranha... E logo no Teatro Municipal, um local elegante... tão europeu!...

 MENOTTI:- Ele estava com uma unha encravada...

 

 Menotti imita caricatamente o andar de Villa arrastando os chinelos.

  

MENOTTI:- Povo ignorante... povo ignorante... não percebeu que a minha arte está aqui (aponta a cabeça) e não nos pés...

 TARSILA:- Villa, com seu carisma, deve ter superado tudo isso...

 MENOTTI:- Que nada: levou uma vaia fenomenal... Ele mal conseguia ouvir a orquestra...

 ANITA:- O público pensou que os chinelos do Villa também fossem coisa do modernismo...

 MÁRIO:- Graça Aranha! O velho Graça, mais sem graça que nunca, com aquelas histórias de “integração no cosmos pelas emoções derivadas de nossos sentidos”... “unidade suprema com o Todo Universal...” e “jovem e ousada poesia...” Nunca vi nada mais passadista... mais sem futuro... Não dava pra acreditar no modernismo do Graça Aranha... O pior é que o povo não entendeu nada, mas aplaudiu...

 MENOTTI:- E o nosso poeta futurista... aí...

 MÁRIO:- Futurista é a... (Menotti tapa-lhe a boca).

 ANITA:- Lívido como um papel... Mas corajoso...

 TARSILA:- Voltemos ao nosso querido Mário...

 MENOTTI:- Fez pose e leu, das escadarias do Municipal, “A escrava que não era Isaura”, tentando explicar a nova poesia...

 TARSILA:- Tem força a nova poesia... força para derrubar preconceitos... O povo deve tê-lo ouvido, não é mesmo?

 MENOTTI:-  Ouviu? Ouviu, nada... ele – o Mário – é que ouviu um monte de blague, de chistes grosseiros e até palavrões...

 ANITA:- Um exemplo, o Mário... um exemplo que eu... eu sinto não ter forças para imitar...

  

Menotti imita Mário, exagerando sua tremedeira.

  

MENOTTI:- “Excluo da poesia bom número de obras-primas inegáveis... ou na totalidade ou em parte... Não direi quais... Seria expulso do convívio humano... o que aliás seria mui grande exílio para quem por universal consenso já vive no mundo da Lua...”

 MÁRIO:- Vocês estão tirando sarro agora, que já se passaram seis anos... mas naquela semana... me digam: quem conseguiu dormir? Quem conseguiu comer direito? E você, Anita, como sentiu a reação do povo diante do seu “Homem Amarelo”?

 MENOTTI:- Ficou “amarela”, ora...

 TARSILA:- Não seja grosseiro, Menotti... São Paulo ainda é uma província... ainda não estamos preparados para artistas como Anita... como nós... É preciso freqüentar os salões da Europa...

 ANITA:- Europa... você fala de Europa, Tarsila... eu também estudei lá... mas agora o que interessa é o amarelo do Brasil...

 TARSILA:- E esse amarelo deve representar uma arte de luta por um país de que minha filha se orgulhe um dia...

 MÁRIO:- A Semana de Arte Moderna foi isso, Tarsila... o verdadeiro grito de independência... buscamos uma linguagem... uma linguagem que falasse desses sentimentos... a língua brasileira é rica... é sonora... tem esse admirável “ão”...

 TARSILA:- O “ão” de peão... de sertão... de invenção... de pão...

 MÁRIO:- Como falamos. Como somos... sem essa de pronomes... “Dá-me um cafezinho...” Me dá um cafezinho, e estamos conversados...

 MENOTTI:- A imprensa desceu o pau... o povo se dividiu... E foi uma canseira danada para reagir a cada crítica... Escrever artigos... polemizar...

 ANITA:- Polêmica brava...

 MÁRIO:- E tudo começou com você, Anita...

 MENOTTI:- Uma semana estranha, a da Arte Moderna... Tava assim de passadista...

 MÁRIO:- Como disse Paulo Prado, isso não tinha a menor importância. O importante foi a reunião. Foi sacudir a velharia... mudar os rumos da arte no Brasil...

 OSWALD:- Vocês querem parar com isso?... Essa história é minha! Que merda! Vocês foram longe demais... Viraram passadistas? Foram para o futuro e ficam analisando o passado como peça de museu... “Nós fizemos... nós mudamos... nós isso... e aquilo...” Vamos voltar... vamos voltar para 1922... para o bar em que estávamos... para as rãs...

  

Depois de um momento de estupefação e silêncio, o grupo se reúne de novo em torno da mesa do bar e, aos poucos, retomam o clima de descontração.

 

 ANITA:- Eu... eu não sei se vou querer isso...

 TARSILA:- Ora, Anita... deixa de ser boba... é uma delícia...

 MÁRIO:- Eu estou com a Anita... Acho que vou querer um escalopinho...

 MENOTTI:- O Juca Mulato aqui vai encarar as rãs Tarsiwaldianas....

 OSWALD:- Tarsiwald... Tarsila e Oswald... Taí... gostei...

 MÁRIO:- E como gostou!...

 MENOTTI:- O incorrigível Oswald... Já se apaixonou...

  

 Oswald levanta-se e inicia uma nova brincadeira, que todos acompanham, interrompendo-o com risadas chistes.

 

OSWALD:- Um brinde... um brinde a Tarsiwald e ao banquete das rãs... 

 TODOS:- Um brinde!

 OSWALD:- As rãs, meus senhores, no contexto da evolução humana têm grande importância...

 TODOS:- Importância?

 OSWALD:- ... Cornelius Subitus, o grande autor latino...

 MENOTTI:- Cornelius Subitus... essa foi boa...

 OSWALD:- ... conta em sua magnífica obra, De Ranarum, que as rãs eram objeto de culto...

 MÁRIO:- ... os adoradores de rãs...

 ANITA:- ... um oráculo das rãs...

 MENOTTI:- ... uma ranolândia!

 OSWALD:- ... dos povos primitivos que habitavam a antiga região do delta do rio Hericínio.

 ANITA:- Onde fica isso?

 MÁRIO:- Na Barra Funda é que não é...

 MENOTTI:- Em Santana... em Santana...

 OSWALD:- ... graças ao seu salto, a rã pôde evoluir para os homúnculus pré-antropóides...

 ANITA:- Homúnculo?

 MENOTTI:- Homúnculo amarelo...

 OSWALD:- ... conforme está registrado na Suma Antropológica de Saurus Parnasus.

 MÁRIO:- Rã parnasiana...

 MENOTTI:- ... irmã do sapo-boi..

 OSWALD:- Essa mesma rã que agora estamos saboreando...

 TARSILA:- Com esse argumento, chega-se teoricamente à conclusão de que estamos sendo agora uns quase antropófagos...

 MENOTTI:- Estamos comendo nossos ancestrais!

 MÁRIO:- Se comemos nossos ancestrais, podemos comer nossos vizinhos...

 ANITA:- Como, aliás, já faziam nossos índios...

 OSWALD:- Hans Staden e seus desenhos antropofágicos...

 MÁRIO:- “Lá vem nossa comida pulando...”

 OSWALD:- É isso... lá vem nossa comida pulando... A antropofagia é a solução...

 MENOTTI:- Pra quem? Pra quem come ou pra quem é comido?

 OSWALD:- Solução para a Arte, senhores e senhoras! Para uma autêntica arte brasileira. Pau-brasil e antropofagia... Este ano, 1922, não será mais 1922 depois de Cristo, mas o ano 368 da deglutição do Bispo Sardinha. E seremos todos antropófagos... É preciso comer tudo o que vem de fora e... descomer em forma de arte autenticamente brasileira...

 MÁRIO:- Isso pode dar em fascismo...

 OSWALD:- Não, Mário. O fascismo é o nacionalismo triste... o nacionalismo de boi na canga... de viseira de burro... Estou falando do nacionalismo crítico... Aberto ao mundo, mas preservando a nossa cultura... Mais ainda: valorizando o que é nosso e climatizando o que vem das estranjas...

 MENOTTI:- Uma arte popular!

 ANITA:- De raízes folclóricas!

 TARSILA:- Um cubismo de cores nacionais... O homem brasileiro! O antropófago. O homem que come. O ABAPORU!

 MÁRIO:- Não sei, não... Isso está me cheirando a demagogia... Exageros nunca levam a nada...

 OSWALD:- Exageros ou não, vou fundar o Movimento Antropofágico... E aí, sim, poderemos dar o nosso grito de independência: ANTROPOFAGIA OU PORRADA!

 MÁRIO:- Já vi esse filme...

 TARSILA:- Me lembra de quando era criança na fazenda... Tinha muitas empregadas... aquelas pretas maravilhosas... trabalhavam para nós na fazenda... Depois do jantar elas reuniam a criançada para contar histórias de assombração... iam contando da assombração que estava no forro da casa... Eu tinha muito medo... A gente ficava ouvindo... Elas diziam: daqui a pouco da abertura vai cair um braço... vai cair uma perna... e nunca esperávamos cair a cabeça... abríamos a porta correndo e nem queríamos saber de ver cair a assombração inteira... Quem sabe o ‘Aba-Poru’ é um reflexo disso?

 OSWALD:- A pureza da criança... a pureza do índio antes de Cabral: livre, puro, feliz, solto... sem o português...

 TARSILA:- Uma pintura perturbadora... de magias do interior... a cor do interior... o mistério... O amarelo, o laranja... O mistério... será uma planta? será um bicho? O sol... o sol abrasador dos trópicos... A realidade... a realidade que eu sonho... que eu imagino... que eu invento... Sim, Oswald: Abaporu... antropofagia...

 OSWALD:- O selvagem sem as miçangas da catequese! Só a antropofagia a nos unir! A única lei do mundo! A máscara de todas as religiões... de todos os tratados de paz! Cristo nasceu na Bahia!

 MÁRIO:- Ok! Você venceu, Oswald... Macunaíma será teu filho!

 OSWALD:- Sabe o que a indiaiada pelada descobriu antes dos portugueses? Sabe? A felicidade, Mário! A felicidade! Tupi or not tupi: that is the question.

 TARSILA:- Vamos para meu atelier! Vamos comemorar a redenção da cultura brasileira... mais que nunca européia... antropofagicamente européia!

 OSWALD:- Vamos todos carnavalizar a antropofagia... no meu cadillac verde! Vamos!

  

Arma-se uma espécie de corso carnavalesco, com todos cantando, jogando serpentinas, confetes, como se estivessem no cadillac verde de Oswald. Chegam ao atelier de Tarsila.

  

OSWALD:- O meu grupo... Tarsila, Menotti, Anita ... Mário...

 MÁRIO:-  Acorda, Oswald... o sonho acabou...

 OSWALD:- Mário de Andrade! Meu fraternal Mário de Andrade!

 MÁRIO:- Fraternal, Oswald? Não se lembra de nosso rompimento?

 OSWALD:- Rompimento, Mário? Não faça drama! É preciso romper a unidade dramática... criar novas formas de conflito... por um teatro delirante... absurdo...

 MÁRIO:- Tão vivido... e ainda preso às formas loucas da juventude...

 OSWALD:- O “modernismo” afogou numa pletora os pascácios... os pascácios aturdidos do soneto... do português certo... do falar bonito... dos sapos parnasianos... Comemos todos eles! E você vem falar em prisão às formas? Corta essa, meu caro... (Imita o fantasma) Bomba atômica...  avião a jato... e sabe o que mais?... se é que me entende... as ondas da Internet... as ondas da Internet!

 MÁRIO:- Mas sua obra, Oswald... sua obra!...

 OSWALD:- Mário... Minha obra foi minha vida...

 MÁRIO:- Estou falando do Movimento, Oswald...

 OSWALD:- O movimento produziu mais poetas que prosadores... teve mais pintoras que pintores... Teve dois escultores... de túmulos! E o músico mais barulhento e vazio da América – Villa Lobos...

 MÁRIO:- Modernismo ou porrada! Não era isso o que você dizia? Pelo que vejo, continua sendo mais porrada que Modernismo...

 OSWALD:- Chutei muitas bundas, sim: de inimigos e até de amigos!...

 MÁRIO:- Só sua vida foi “modernista”, Oswald!... mulheres... viagens... Não sei o que você teve mais na vida: navios ou mulheres!

 OSWALD:- Orgulho-me disso, ouviu? Não sou como certos intelectuais solitários... Deixa pra lá! Acrescenta às tuas ironias sobre minha vida: Era rico... ficou pobre. Era burguês... foi comunista!

 MÁRIO:- Não há ironias que resistam aos escândalos, Oswald... Sua vida foi uma sucessão de escândalos...

 OSWALD:- Era preciso escandalizar! “Épater le bourgeois”... e nós espantamos! Eu espantei! Com meu cadillac verde ziquezagueando pelas ruas estreitas de uma São Paulo cada dia mais desvairada...

 MÁRIO:- Não me venha agora com esse papo de paulicéia desvairada...

 OSWALD:- Para seu ar de intelectual passadista... lembro o meu romance com aquela bailarina... como é mesmo o nome dela? Tinha... dezesseis anos... foi engordar num convento... Carmen Lydia! Pobre Carmem Lydia! Ela também emburreceu!...

 MÁRIO:- Agora você pegou fundo... Intelectual passadista? Emburrecido? Eu te cobro uma obra... uma nova carta de Caminha... sem arcaísmos... neológica... com todos os erros... Como falamos, como somos!

 OSWALD:- Você não tem esse direito... Mas eu vou te dizer, Mário... se eu não destroçasse todo o velho material lingüístico que utilizava... se eu não amassasse ele de novo nas formas... agrestes... do modernismo... minha literatura aguava... não ia valer nada, mesmo... mas sempre enfezei de ser eu mesmo. Podia ser mau... mas era eu!

 FANTASMA DE OSWALD:- Aí Nonê! Tendo uma crise de modéstia?

 OSWALD:- Pára de me chamar de Nonê! Eu cresci!

  

O Fantasma tenta espantar Mário de Andrade, que resiste.

  

FANTASMA DE OSWALD:- Chô!... Chô! Intelectual...

 MÁRIO:- Isola... fantasma mais idiota! Vou chamar o resto da turma...

 FANTASMA DE OSWALD:- Vai chamar o Lobo Lobato, vai?...

 MÁRIO:- Vou chamar... o... a ... minha amiga Anita...

  

O Fantasma faz uma careta para Mário, que puxa Anita para junto de si. Volta-se para Oswald.

  

FANTASMA DE OSWALD:- O mundo cresceu, seu Nonê... não o futurismo!

 OSWALD:- Futurismo é a puta que...

 FANTASMA DE OSWALD:- Cuidado, seu cara de quiabo... não fique estressado...

 MÃE:- Meu filhinho falando palavrão!? Virgem Santa... perdão, meu Deus!

  

Oswald percebe, neste momento, a presença da Mãe.

 

 OSWALD:- Mãezinha! A senhora, minha Mãe...  foi embora tão cedo... fiquei sozinho, minha Mãe...

 MÃE:- Mãezinha não gostou nada das artes que o menininho tem feito... Nonê merecia um castigo... Pra não falar palavrão...

 OSWALD:- Meus pecados foram muitos, minha mãe...

 MÁRIO E ANITA:- E bota pecado nisso...

 OSWALD:- O que é isso? Um complô?

 MÃE:- Filhinho teve muitos casamentos...

 OSWALD:- Arrependo-me de poucos, minha Mãe...

 ANITA:- Mentira!

 MÁRIO:- Ele não se arrepende de nada...

 MÃE:-  Filhinho foi comunista...

 FANTASMA DE OSWALD:- Gente de respeito, minha Mãe, gente de respeito...

 OSWALD:- Quem é o filho, aqui? Eu ou você? Sai...

 FANTASMA DE OSWALD:- Não se lembra, seu Nonê? Eu sou você! E vou ficar... sabe pra quê? Sabe? Pra te salvar! Pra te salvar!

 MÃE:- Fortuna do pai... onde está, meu filho? Não. Não precisa responder... Mulheres, farras, casamentos, viagens... Muito riso e pouco siso...

 FANTASMA DE OSWALD:- Nem água benta pára essa encrenca... encrenca braba, que nunca acaba... ou de joelho no milho ou vence o filho?

 MÁRIO:- Aposto na mãe...

 ANITA:- No fundo, no fundo... ele é bom moço...

 OSWALD:- Estão querendo me julgar? Então, é isso... um julgamento! Vamos lá: me diga aí, seu fantasma que se diz fantasma de mim mesmo: o que reservou ao movimento o futuro?

 FANTASMA DE OSWALD:- Assumiu o futurismo?

 OSWALD:- Eu te dou uma porrada...

 MÃE:- Olha o palavrão, Nonê... te ponho de joelho no milho!

 MÁRIO:- Dobro a aposta na mãe!

 ANITA:- Acho que vou nessa, também!

 FANTASMA DE OSWALD:- O que você quer saber, seu Nonê? Dos teus versos tão adversos que tu chamavas de biscoitos finos? Deles garanto, pra teu espanto, que a massa, o povão, seu bobão, o torcedor de futebol, esse não está nem aí para os seus biscoitos... ou devo dizer biscuits, seu cara de xixi? Sua obra, Nonê, seu chorão, não chegou ao povão!

 OSWALD:- O modernismo, então, morreu?

 FANTASMA DE OSWALD:- Sua poesia... seu teatro... ou devo dizer: minha poesia... meu teatro?

 OSWALD:- Não enche, tá?

 FANTASMA DE OSWALD:- Ninguém se lembra de seus delírios...

 MÃE:- Ainda bem... aquela loucura toda... Mãezinha não pôs filhinho no mundo pra inventar o Brasil... desse jeito!... Deus castiga, viu?

 MÁRIO:- Isso aí! Mãe é sempre mãe!

 ANITA:- Eu queria ter sido mãe...

 MÁRIO:- Não é hora disso, Anita...

 OSWALD:- Morri! Sou eu o fantasma, não você!... Morri!

 FANTASMA DE OSWALD:- Engano seu, seu Zé Bedeu, que o gato comeu!

 OSWALD:- Não podiam ter inventado um fantasma shakespeareano?... menos chato? Que saco!

 MÃE:-  Perdoa, meu Deus... ele sabe o que faz... e continua fazendo...

 FANTASMA DE OSWALD:- Pois é, seu Zé, não chia: se ninguém se lembra de sua poesia, em compensação...

 OSWALD:- Em compensação?...

 FANTASMA DE OSWALD:- Telegrama: Prezado Nonê. PT saudações. Informo inauguração Museu Arte Moderna. PT.

 OSWALD:- Virei... viramos museu?!!! Eu virei museu??!!

 MÃE:- Aquela arte impura... sem religião... no Museu? Deus Santíssimo...

 FANTASMA DE OSWALD:- E mais ainda, pra sua dor infinda: VOCÊ, SEU NONÊ, FOI COMIDO!

 OSWALD:- Co.... co... como?

 FANTASMA DE OSWALD:- Como não: COMIDO! DEGLUTIDO! Como aquela gracinha do bispo Sardinha!

 MÁRIO:- Eu avisei que aquela história de antropofagia não ia dar certo...

 ANITA:- Bem fiz eu de ficar quieta no meu canto...

 MÃE:- Heresia, meu Pai... Não ouça esses hereges... Sua capacidade de perdoar, Senhor, está sendo testada pelo demônio!...

 OSWALD:- Não entenderam nada... não entenderam nada... Era para deglutir o mundo e cagá-lo brasileiro! Assimilar as técnicas... o moderno... a máquina... o hardware... e usar tudo, tudo... numa visão... numa visão nacionalista, brasileira! O Brasil, seu fantasma de merda... O Brasil!

 

 Oswald pega um caixa de maquiagem, mas o Fantasma toma-lhe a caixa e, durante o diálogo seguinte, pinta de vermelho a metade de seu rosto e a metade do rosto de Oswald.

 

 

MÃE:- Você é nobre, meu filhinho... é quatrocentão... pobre, mas nobre. Salve sua alma. Reze... reze comigo o salmo 90, Nonê... Um pedido de sua Mãezinha você não pode negar... Vamos, reze comigo: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração...”

 OSWALD:- “Senhor, tu tens sido...” Não! Não consigo mais...

 FANTASMA DE OSWALD:- Tudo mudou... o mundo globalizou... e o vento levou...

 OSWALD:- Olha aqui, seu fantasma, isso aqui está uma... uma... droga de peça... Eu me retiro dessa pantomima pseudomodernista...

 MÃE:- Sim, meu filho, vem com a Mãezinha... Só o arrependimento pode salvar sua alma...

 FANTASMA DE OSWALD:- Sua alma, sua palma... e vê se você se acalma! Ainda há muito a sonhar! Vem, vem dançar... Não seja, agora, um escapista, seu modernista...

 OSWALD:- O modernismo morreu... você mesmo disse...

 MÁRIO:- Ele ainda não entendeu...

 ANITA:- ... que ele é que morreu...

 FANTASMA DE OSWALD:- Veja na minha graça o que realmente se passa, seu Nonê... O que o Brasil te cobra não é a sua obra... é sua vida, que foi comida... sim, foi comida... O Chacrinha te comeu e te reviveu... No carnaval, todo ano, com muito ou pouco pano... te comem e descomem, sabe onde? Sabe? Não é aqui ou na Sapucaí... mas onde se esconde a Cobra Grande... nos mil brasis do Jeca Tatu... do reinado e do reisado... do maracatu... Você não queria inventar o Brasil? Ou você inventa o Brasil ou o Brasil te come...

 MÃE:- Ouviu, Nonê? Ainda há esperança... É preciso arrepender-se... A irmãs do Colégio Imaculada não lhe ensinaram os mandamentos? Você é paulista quatrocentão, meu filho... Larga essa vida... vem, vem com a Mãezinha...

 OSWALD:- Cada vez entendo menos o que esse fantasma idiota está falando... Agora ressuscitou até mesmo o Monteiro Lobato...

 FANTASMA DE OSWALD:- Não seja tapado, seu Oswaldo... Já não disse que o tempo levou tudo o que passou? Mário de Andrade tinha razão, Lobato tinha razão... você tem razão... Assim se faz uma nação! Quer ver? E reviver?

  

O Fantasma começa a dançar e cantar.

  

FANTASMA DE OSWALD:- “Quem foi que fundou o Brasil, foi seu Cabral? Foi seu Nonê?”

 OSWALD:- De novo, não... Chega! Eu vou embora...

 MÃE:-  Isso mesmo!... Vem... vem com a Mãezinha... Renega o pecado, renega essa arte do demônio... vem com a Mãezinha... Vamos embora daqui...

 FANTASMA DE OSWALD:- Embora? Agora? Que nada! É a hora, seu Nonê, de dizer pra você: a festa é esta!

 OSWALD:- Mãezinha... nasci macunaíma, minha mãe... pretinho, pretinho... Agora estou nascendo de novo, Mãezinha... e agora sou índio, Mãezinha!... A imagem de Nossa Senhora Aparecida não me protege mais, minha Mãe...

 MÁRIO:- Acho que a ficha dele caiu... Vamos nessa, Anita...

 ANITA:- Não perco por nada esta festa...

 MÃE:- Você é quatrocentão, meu Nonê... paulista quatrocentão... Nossa Senhora Aparecida vai sempre te proteger...

 FANTASMA DE OSWALD:- Vem, vamos dançar o Brasil... que você descobriu... sei lá se foi num primeiro de abril! E sabe o que é isso, sua língua de chouriço, sabe? Eu sabia que você não sabia: é ANTROPOFAGIA! ANTROPOFAGIA!

  

Uma grande festa, com todos os personagens cantando e dançando, que termina com todos gritando:

  

TODOS:- Será o fim, Serafim?

 

 

FIM

 

Isaias Edson Sidney

Março  de 1999.

Abril de 99


 

 

BIBLIOGRAFIA

 

Para a elaboração desta peça, foram comidos e descomidos os seguintes autores e obras:

 

1.   AMARAL, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22.
S.P.: Ed.34, 1998.

2.   ANDRADE, Oswald. Serafim Ponte Grande. Memórias Sentimentais de João Miramar. R.J.: Civilização Brasileira, 1972.

3.   BATISTA, Marta Rossetti; LOPEZ, Telê Porto Ancona; LIMA, Yone Sores de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29. Documentação. S.P.: Instituto de Estudos Brasileiros, 1972.

4.   BOAVENTURA, Maria Eugênia. O Salão e a Selva – uma biografia ilustrada de Oswald de Andrade. Campinas, S.P.: Editora da UNICAMP; São Paulo: Editora Ex Libris, 1995.

5.   BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. S.P.: Cultrix. 2ª edição, s/d.

6.   CARA, Salete de Almeida. Manuel Bandeira. Literatura Comentada. S.P.: Abril Educação, 1981.

7.   CARVALHO, Ronald de. Pequena História da Literatura Brasileira. RJ.: F. Briguiet & Cia. 1955.

8.   CASTRO, Sílvio. A Revolução da Palavra. Origens e Estrutura da Literatura Brasileira Moderna. Petrópolis: Vozes. 1976.

9.   COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. Modernismo. R.J.: Editorial Sul Americana S.A., 1970.

10. DIONYSOS – ÓRGÃO DO SERVIÇO DO SERVIÇO NACIONAL DE TEATRO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Ano XXIV – dezembro de 1975 – número 22.

11. DIONYSOS – ÓRGÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE TEATRO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Ano XXII – setembro de 1972 – números 19, 20 21.

12. Goldstein, Norma. Olavo Bilac. Literatura Comentada. S.P.: Abril Educação, 1980.

13. GOTLIB, Nádia Battella. Tarsila do Amaral, a modernista. S.P.: SENAC, 1998.

14. KLAXON. MENSÁRIO DE ARTE MODERNA. Edição facsimilar. S.P.: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Turismo e Conselho Estadual de Cultura. Martins Editora, 1972.

15. LAFETÁ, João Luiz. Mário de Andrade. Literatura Comentada. S.P.: Abril Educação, 1982.

16. LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato. Literatura Comentada. S.P.: Abril Educação, 1981.

17. Lasar Segall: Textos, Depoimentos e Exposições. S.P.: Museu Lasar Segall, Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, 1993.

18. OLIVEIRA, Franklin de. A Semana de Arte Moderna na Contramão da História e Outros Ensaios. R.J.: Topbooks, 1993.

19. OSCAR, Henrique. O Teatro e a Semana de Arte Moderna de São Paulo. Copyright do A . R.J.: 1985.

20. PESSOA DE BARROS, Frederico Ozanam. Guilherme de Almeida. Literatura Comentada. S.P.: Abril Educação, 1982.

21. PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de Época na Literatura: Através de Textos Comentados. S.P.: Ática. 1978.

22. SCHWARTZ, Jorge. Oswald de Andrade. Literatura Comentada. S.P.: Abril Educação, 1980.

23. WISNIK, José Miguel. O Coro dos Contrários: A Música em torno da Semana de 22.S.P.: Livraria Duas Cidades, 1983.

24. ZILIO, Carlos. A Querela do Brasil – a questão da identidade da arte brasileira. RJ: Relume Dumará, 1997.

 

 

(Capa:  DELAUNAY – THE RED TOWER)

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