quinta-feira, 13 de maio de 2021

BRINCANDO NA CHUVA

 


 comédia

de Alexandre Kavanji e Isaias Edson Sidney

 

2000

 

SBAT – 1434 (13.12.2000)

FBN - : 220.248; Livro 385; folha 408

 

Contatos com os autores:

 

Alexandre Kavanji

 

tel. (11)99241-9358

 

kavanji@gmail.com

 

Isaias Edson Sidney

 

Rua dos Buritis, 251 – Jabaquara, São Paulo/SP

Cep. 04321-001

 

Tel.; (11)5011-9628

 


BRINCANDO NA CHUVA

 

Comédia musical em um ato, para crianças até 12 anos.

 Alexandre Kavanji e Isaias Edson Sidney


 

Músicas:

Cantando num toró: versão de Maurício Pereira, para “Cantando na chuva”.

Demais canções: letra e música de Tato Ficher.

 


Nota: as referências musicais foram as da montagem da Cia. Pauliceia de Teatro.

 

PERSONAGENS

 

PRINCIPAIS


 

NICO E LAU: dois amigos.

 

OROBU DA SILVA: quer dominar o mundo e, para isso, rouba a chuva.

 


OUTRAS PERSONAGENS

 

 

SULTÃO

D. QUIXOTE

ENFERMEIRO 1

ENFERMEIRO 2

ATOR

APRESENTADOR

“AUTOMÓVEL”

PROF. RIBAMAR (disfarce do Orobu)

 

 


 

 Sons de chuva. Atores cantam e dançam a música de abertura: CANTANDO NUM TORÓ (Singing in the Rain), de Nacio Herb Brown/Arthur Freed/versão Mauricio Pereira.

 

 

TODOS:- Cantando num toró

Cantando num toró

Vê que momento lindo

Pra alguém se entregar

Sorrio pras nuvens

Escuras do céu

Trovões me sacodem

Me acordam pra amar

 

Deixa a água rolar

E a todos molhar

Gotinhas de chuva

Me fazem sonhar

Eu desço a ladeira

E é bom estar só

Cantando

Cantando

Num toró

 

NICO e LAU:- Nós cantamos assim... felizes... porque amamos o toró...

 

NICO:- O toró faz crescer as plantas que plantamos...

 

LAU:- O toró dá água para nossos bois...

 

NICO:- ... nossas galinhas...

 

LAU:- ... nossos burros...

 

TODOS:-  Eu desço a ladeira

E é bom estar só

Cantando

Cantando

Num toró!

 

 

 

NICO com guarda-chuva. Postado atrás dele, sobre uma escada, LAU faz chover com um regador. Num outro canto do palco, a figura sinistra do Orobu faz planos, intercalando sua fala com a dos dois heróis, que não o ouvem.

 

 

NICO:- Chuva, chuva, choro do céu que desce da serra; choro de nuvem que molha a terra; chuva que faz a planta crescer e dá água pra gente beber e dá água pra gente se lavar... Lau, ô Lau, seu cara de pau! Já tomou banho hoje?

 

OROBU:- Chuva! É isso... Todo mundo gosta de chuva, não gosta?

 

LAU:-  me estranhando, ó Nico, seu cara de penico?...

 

NICO:- Esse teu cheirinho não me engana... Lau, ô Lau, seu cara de pau...

 

OROBU:- Parece que tem gente que não gosta... Mas a chuva é água... ou não é?

 

LAU:- Fala, ô Nico, seu cara de penico...

 

NICO:- Chuva não faz planta crescer?

 

LAU:- Faz,  seu Nico, cara de penico... Chuva faz planta crescer... Ficou bocó, agora?

 

OROBU:- Água todo mundo precisa: bicho, homem, planta... E a água vem da chuva, não é mesmo?

 

NICO:- Então por que você não cresce, com toda essa chuva que chove em cima de você?

 

LAU:- E eu sou planta, seu Nico, cara de penico?

 

NICO:- Se você não é planta, por que fica aí plantado feito um pé de mamão, ô Lau, cara de bobão!

 

OROBU:- Se eu roubar a chuva, a água acaba... Se só eu tiver água, todo mundo vai comer, ou melhor, vai beber aqui na minha mão... E eu, Orobu da Silva, filho de Oriovaldo e da dona Orora, deixarei de ser “da Silva” para ser o rei do mundo... o rei do mundo...

 

LAU:- Chuva e sol, casamento de espanhol; sol e chuva, casamento de viúva;  sol com chuva, que beleza, arco-íris com certeza!

 

NICO:- Ih! Além de pé mamão, é um poeta bobão esse Lau, cara de... de... mandacaru bem espinhento!...

 

LAU:- Nico... me diz uma coisa, agora bem séria, quais as melhores coisas da vida?

 

NICO:- São tantas! Mas lá vai uma: a amizade!

 

LAU:- Outra: a chuva, que molha todo mundo igualmente: rico, pobre, feio, bonito, homem, mulher...

 

NICO:- Falou bonito, seu Lau, cara de comigo-niguém-pode! Mas há também uma coisa que todo homem deve ter...

 

LAU:- ... e toda mulher também...

 

NICO:- ... e todo jovem e toda jovem...

 

LAU:- ... e toda criança, seja menino ou menina...

 

NICO:- O que é? O que é?

 

LAU:- RESPEITO, seu Nico!

 

NICO:- RESPEITO, seu Lau!

 

NICO E LAU:- Respeito à vida e à natureza!

 

 

Som de trovão, raios, música, ação. Entra o personagem ORUBU da Silva que rouba a chuva. Grande alvoroço.

 

 

NICO e LAU:- Socorro! Roubaram a chuva! Socorro!!!

 

NICO:- O que eu faço agora? Levaram a minha chuva embora.

 

LAU:- Embora, bora, bora, bora.

 

NICO:- Que tristeza! O céu não tem mais aquela beleza.

 

LAU:- Beleza, leza, leza, leza.

 

NICO:- A água não mais abunda.

 

LAU:- A água, água, água, água.

 

NICO:- Chega! Vai ficar repetindo tudo o que eu falo, seu papagaio?

 

LAU:- Papagaio, gaio, gaio, gaio.

 

NICO:-  Chega, sua maritaca!!! Sua máquina de repetição! Chega! Chô, baixo astral! Vamos tomar uma providência, recuperar o que perdemos, organizar uma expedição para procurar a chuva.

 

LAU:- Expedição? Mas para fazer uma expedição é preciso muita gente e também um plano.

 

NICO:- Tem razão. É preciso muita gente. MAS NÓS JÁ TEMOS MUITA GENTE: EU E VOCÊ. NÓS SOMOS UMA MULTIDÃO!

 

LAU:- Tá bom, tá bom! E O PLANO! NÓS TEMOS UM PLANO?

 

NICO:- SIM! NÓS JÁ TEMOS UM PLANO!

 

LAU:- QUAL?

 

NICO:- DROGA! POR QUE A GENTE ESTÁ GRITANDO?

 

LAU:- SEI LÁ! SE GRITAM COMIGO, EU GRITO DE VOLTA!

 

NICO:- Está bem... (bem baixinho) O plano é o seguinte: vamos virar o mundo de ponta-cabeça até encontrar o nosso objetivo: a chuva.

 

LAU:- Não ouvi nada, vocês ouviram?

 

 

Nico repete a fala, agora em tom normal.

 

 

LAU:- Você ficou maluco! Como nós vamos virar o mundo de ponta-cabeça? Eu acho que você é que está de ponta-cabeça!

 

NICO:- Chega de falação. Precisamos de ação. Vamos preparar nossa bagagem, mapas, planos, sonhos.

 

LAU:- Vou arrumar minha lancheira.

 

 

Música:PREPARANDO A EXPEDIÇÃO.

 

 

NICO:- Bússola, barco, bandeira, barbante...

 

LAU:- Botina, baralho, biscoito, refrigerante...

 

NICO:- Medidor de altitude...

 

LAU:- E bolinha de gude...

 

NICO:- Anzol pra pescaria...

 

LAU:- Um bolo da minha tia...

 

NICO:- E juntos vamos encontrar a chuva...

 

LAU:- Pra depois comer um cacho de uva...

 

NICO:- E juntos vamos encontrar a chuva...

 

LAU:- E então comer o bolo da viúva...

 

NICO:- E juntos vamos encontrar a chuva...

 

LAU:- E vamos passear em Catanduva...

 

NICO:- Chega!!!

 

LAU:- Ó seu Nico, cara de não sei quê, afinal pra que tudo isso? Essa expedição maluca?

 

NICO:- Pra achar a chuva, ó xente!

 

LAU:- Achar a chuva pra quê? Afinal, se roubaram a chuva, alguém – que não seja eu – pode muito bem ir atrás e encontrar!

 

NICO:- Não seja comodista, homem!

 

LAU:- Comodista? Que raio é isso?

 

NICO:- É gente que senta em cima do próprio rabo e não faz nada... Vamos... vamos logo com isso, que não tem mais ninguém, eu repito, ninguém, neste mundo, que tenha mais respeito e mais amizade à natureza do que nós...

 

LAU:- E só por isso nós temos que sair por esse mundão afora, para achar uma coisa que a gente não sabe se vai achar?

 

NICO:- Você não disse que...

 

LAU:- Disse, disse, sim: respeito... Tá bom, vamos lá!     

                        

 

Enquanto Nico e Lau caminham à procura da chuva, Orobu da Silva esconde o regador da chuva, disfarça-se, tira da bolsa uma pedra.

 

 

OROBU:- Essa pedra... sabem, dizem que é mágica: é a pedra do sonho. Quando você sonha com alguma coisa, ela, a pedra, realiza pra você... Eu, Orobu da Silva, digo, Orobu o Rei, tenho um sonho: ser o homem mais poderoso do mundo... já sou  dono da chuva... é o começo da realização desse sonho...Não preciso mais dessa pedra. Vou jogá-la... (percebe a aproximação de Nico e Lau). Não, não vou jogá-la fora, ela ainda me pode ser útil!

 

LAU:- Ai, como estou cansado, com fome, com sono...

 

NICO:- Você é um molenga!

 

LAU:- Faz dias que a gente só vê terra seca e areia... sem uma gota d’água...

 

NICO:- A gente já está quase chegando...

 

LAU:- Chegando aonde?

 

NICO:- Aonde nós estamos indo, ora...

 

LAU:- E aonde nós estamos indo?...

 

NICO:- Agora é que notei: a gente só anda em círculo!

 

LAU:- Círculo? Dando voltinha sem ir a lugar nenhum?

 

NICO:- O que você fez da bússola?

 

LAU:- Bússola?! Que bússola?

 

NICO:- Um relojinho assim... ó... que aponta o norte...

 

LAU:- Ih! Joguei fora!

 

NICO:- Jogou fora?

 

LAU:- Tava quebrada, uai... tinha um ponteiro só...

 

NICO:- Idiota! Aquele ponteiro é que dá a direção...

 

 

Nico corre atrás de Lau até que topam com Orobu.

 

 

NICO E LAU:- Epa! Que bicho esquisito, sô!

 

NICO:- Que você está fazendo aí?

 

LAU:- Quem é você?

 

NICO:- Que guarda-sol ridículo é esse?

 

LAU:- Será uma “estauta”?

 

NICO:- Estátua!

 

LAU:- “Estauta”!

 

NICO:- Estátua, seu cara de pau!

 

OROBU:- Chega! Eu sou o mágico que vê tudo com olhos cor-de-rosa! Eu me chamo Sá Fado, sou filho de uma fada chamada Sá Fada!...

 

NICO e LAU:- Tudo cor-de-rosa?

 

OROBU:- Claro! Ouçam:

 

 

O Orobu canta o SAMBA DE BREQUE DO ORUBU MALANDRO.

 

 

OROBU:- Que vida linda

Com este sol maravilhoso

A boa-vida

Festejando estou aqui

Nada como um dia atrás do outro

E outro dia atrás do um

E um outro ainda depois

 

Vejo a vida toda cor-de-rosa

Eu tenho tudo o que pedi para ser feliz

Quem quiser saber o meu segredo

Eu posso contar sem medo

É por isso que estou aqui.

 

OROBU:- Pelo que vejo, essas figuras estranhas procuram alguma coisa, não é? Ah, mas é lógico que procuram! Então vieram ao lugar certo. Em que posso ajudá-los?

 

NICO:- Bom, sabe...

 

OROBU:- É lógico que sei.

 

NICO:- O que você sabe?

 

OROBU:- Eu sei o que você quer saber.

 

NICO:- E o que eu quero saber?!

 

OROBU:- Você quer saber o que você não sabe.

 

NICO:- Chega de enrolação...

 

LAU:- Nós estamos procurando quem roubou a chuva.

 

OROBU:- Eu sabia...

 

NICO e LAU:- Sabia? Mas como você sabia?...

 

OROBU:- Eu sempre sei de tudo.

 

NICO:- Então você vai nos ajudar a encontrar a chuva?

 

OROBU:- Bom, geralmente esses casos são muito difíceis.

 

NICO:- Mas o senhor não vê tudo cor-de-rosa?

 

OROBU:- Claro, claro, mas esse caso vai requerer um esforço sobrenatural. Eu não sei se vocês compreendem onde eu quero chegar.

 

NICO e LAU:- NÃO! NÓS SÓ QUEREMOS A CHUVA DE VOLTA!

 

OROBU:- (Para o público) Esses dois bocós acham que eu vou entregar a chuva, assim... Vou é dar um golpe neles... (Para Nico e Lau) Bom, o que eu quero dizer é que isso exige uma troca, uma negociação...

 

NICO e LAU :- Troca? Negociação?

 

OROBU:- Isso mesmo: pagamento! Grana, tutu, arame, bufunfa... Entenderam?

 

NICO:- Mas nós não temos nada para dar como pagamento.

 

OROBU:- O que vocês têm de mais valor dentro dessa maleta?

 

NICO:- Nada, não...

 

LAU:- Só o rádio de pilha...

 

NICO:- Idiota... se gente ficar sem o rádio, como vamos ouvir música, notícia?...

 

OROBU:- Deixa eu ver. (Pega o rádio, liga, ouve-se música.) Muito interessante. Negócio fechado.

 

LAU:- Não, pelo amor de Deus, meu radinho não...

 

NICO:- O senhor não aceitaria esse barquinho de papel?

 

OROBU:- Não! É o rádio ou não tem negócio!

 

 

Nico e Lau confabulam.

 

 

NICO e LAU: - Negócio fechado!

 

OROBU:- Passe esse rádio pra cá! Grande negócio! Grande negócio, estranhos cavalheiros. Em troca vou dispor do que há de mais caro em minha vida: a pedra mágica!

 

NICO e LAU:- Pedra mágica?!

 

OROBU:- Sim, a pedra mágica que me foi dada pelo Xeique Ali Bem Ali, capaz de realizar os nossos mais incríveis sonhos. Estranhos cavalheiros, essa pedra agora a vós pertence.

 

NICO e LAU:- Muito obrigado, senhor, muito obrigado!

 

 

Nico e Lau pegam a pedra e saem. ORUBU comemora cantando e dançando a MUSICA DO ORUBU: A VIDA É BOA, A VIDA É BELA

 

 

OROBU:- A vida é boa, a vida é bela

Mais dois patos na minha panela

A vida é boa, a vida é bela

Mais dois patos na minha panela

           

Ocê pensa que é fácil

Viver na banguela

Nenhuma banana

Na minha gamela?

           

A vida é boa, a vida é bela

Mais dois patos na minha panela

A vida é boa, a vida é bela

Mais dois patos na minha panela

 

Na hora da janta

Me coça a goela

Sonhando com o rango

E vazia a tigela

 

A vida é boa, a vida é bela

Mais dois patos na minha panela

A vida é boa, a vida é bela

Mais dois patos na minha panela

 

 

Termina a música, pega o rádio com cuidado.

 

 

OROBU:- O rádio: com ele posso saber de tudo o que acontece, notícias, comentários, músicas e assim ficar ainda mais poderoso.

 

 

Nico e Lau continuam caminhando, cansados e com muita sede.

 

 

NICO:- Há três dias estou conversando com essa pedra e não acontece nada: nem música, nem notícia... que droga!

 

LAU:- Eu te disse. Eu te disse que isso não ia dar certo. Eu quero o meu radinho de volta. Eu quero o meu radinho de volta.

 

NICO:- Quieto. Senão eu atiro essa pedra na sua cabeça.

 

LAU:- Aquele Orobu malandro... prometeu nos ajudar a encontrar a chuva... e até agora só seca... Eu vou morrer de sede...

 

NICO:- Pior que a sede... pior do que a sede... é você reclamando o tempo inteiro... Lau cara de... de... jiló azedo!

 

LAU:- Eu quero o meu radinho. Eu quero o meu radinho. E quero água também...

 

 

 

Encontram o Sultão, que carrega uma bandeja com um copo de água. Nico e Lau ficam extasiados com a visão.

 

 

 

SULTÃO:-  Eu sou o sultão Ali Baba Aqui. E esse é o meu mais caro tesouro: o último copo d’água do meu oásis! Com ele eu pretendo fazer a dança da chuva, para voltar a chover...

 

NICO:- Dança da chuva? O senhor é sultão ou é índio?

 

SULTÃO:- Quem são os senhores? Guardas! Prendam esses miseráveis!

 

LAU:- Cal... cal... cal…ma, seu sultão... não queremos insultá-lo!

 

 

Nico e Lau confabulam para tentar tomar o copo d’água do sultão.

 

 

NICO:- Olha aqui, seu sultão... o senhor nos dá um pouco dessa água e nós lhe damos a pedra do sonho!

 

SULTÃO:- Pedra do sonho? Que besteira é essa? Deixe-me ver isso...

 

 

Enquanto o Sultão se descuida com a pedra, Lau pega a bandeja e toma o copo d’água. Escândalo geral. O Sultão fica furioso e saca de seu sabre.

 

 

SULTÃO:-  Zabra! Zumbra! Zimbra! Zombro! Não sobrará cabeça sobre ombro!

 

NICO:- Sebo nas canelas.

 

 

Saem de cena correndo, sem esquecer de levar a pedra. Entram novamente, correndo.

 

 

LAU:- Ai, minha cabeça! Cadê minha cabeça? SOCORRO!!!

 

NICO:- Com cabeça ou sem cabeça, eu quero um pouco da água do sultão!

 

LAU:- Ai, minha cabeça! Cadê minha cabeça?

 

NICO:- Cadê a água, seu Lau, cara de... de... espaguete!

 

LAU:- Bebi...

 

NICO:- Bebeu? Tudo? Desgraçado... há sete dias estamos correndo daquele sultão maluco e você não guardou nem uma gota de água para mim!

 

 

Lau sai correndo e Nico vai atrás dele para pegá-lo. Enquanto isso, Orobu coloca os adereços e figurinos para a cena seguinte e fala com a platéia.

 

 

OROBU:- O que eu estava falando, mesmo? Ah! Lembrei! Esses dois aí estão tentando encontrar a chuva que eu roubei... Mas eles podem tirar o cavalo da chuva! Cavalo da chuva! Ih! Ih! Ih! Nem tirar o cavalo da chuva eles podem mais... a chuva é minha e eu não vou entregá-la enquanto não me derem aquilo que eu mais sonhei na minha vida: o ... o ... estranho, não consigo me lembrar... acho que era... Bem, depois eu lembro... O que importa é que eu vou controlar a chuva... Só vai ter água quem me der muito dinheiro... arame... bufunfa... aqui, ó, na minha mão! Enquanto isso... Aí vem eles! Vou-me mandar e deixo vocês com o meu amigo aqui, Dom Quixote de La Mancha!

 

 

Orobu dá uma volta sobre si mesmo, uma pirueta e está travestido de D. Quixote. Entram Nico e Lau. Param, espantados, enquanto D. Quixote tenta lutar com moinhos de vento.

 

 

D.QUIXOTE:- Vamos, seus covardes, lutem! Não fiquem aí parados! Lutem!

 

NICO:- Se mal lhe pergunte, o senhor está lutando contra quem?

 

D.QUIXOTE:- Eu estou lutando contra moinhos de vento... Mas eles não se movem!

 

LAU:- Ué, gente... eu sempre soube que D. Quixote pensava estar lutando com gigantes...

 

D.QUIXOTE:- Os moinhos de vento são gigantes que precisam ser derrotados, mas sem vento, eles são apenas moinhos de vento...

 

NICO:- Cada vez entendo menos...

 

D.QUIXOTE:- É assim: depois que roubaram a chuva, o clima mudou, não há mais ventos... e os moinhos de vento deixaram de ser gigantes... Eu quero um gigante para lutar! E os senhores, quem são?

 

NICO:- Nico!

 

LAU:- Lau!

 

D.QUIXOTE:- Nicolau?

 

NICO E LAU:- Não...

 

NICO:- Nico...

 

LAU:- Lau...

 

D.QUIXOTE:- Então, Nicolau...

 

NICO E LAU:- Deixa pra lá...

 

D.QUIXOTE:- Nicolau Deixa pra lá... um nome interessante para... dois cavaleiros...

 

 

Nico e Lau ficam desanimados.

 

 

D.QUIXOTE:- Ah! Já sei... Vocês são os dois bandidos que destrataram a minha Dulcinéia... Merecem castigo! Preparem-se para a luta, facínoras!

 

NICO:- Espere aí: Dulcinéia? Quem é Dulcinéia?

 

D.QUIXOTE:- A mais bela, a mais pura, a mais digna de todas as donzelas... Dulcinéia del Toboso... a minha Dulcinéia! Em guarda!

 

LAU:- Não! Espere aí: nós só estamos procurando a chuva... não des... des... como é mesmo? Isso, não destratamos nenhuma donzela... aliás, nem vimos donzela nenhuma, não é, Nico?

 

NICO:- No dia em que me disserem o que é uma donzela, eu até posso tentar ver uma...

 

D.QUIXOTE:- Ninguém engana o cavaleiro mais audaz desse reino... Eu, D. Quixote de la Mancha, que já derrotou moinhos de vento... não, moinhos, não... que já derrotou gigantes e dragões...

 

NICO E LAU:- Dragões?!

 

D.QUIXOTE:- ... eu vos desafio: em guarda, seus mandriões!

 

NICO E LAU:- Mandriões?!

 

 

D. Quixote investe contra os dois, que saem correndo, gritando. Despistam D.Quixote e voltam à cena, esbaforidos.

 

 

NICO:- Com fome...

 

LAU:- Com sede...

 

NICO:- Cansados...

 

LAU:- Ferrados... ou quase ferrados...

 

NICO:- Estropiados...

 

NICO E LAU:- ... mas não desanimados... vamos achar a chuva...

 

NICO:- ... se não o mundo vai secar... vai virar tudo deserto...

 

LAU:- É dura essa vida de herói... Quem será que roubou a chuva?

 

NICO:- Se eu pego esse desgraçado... eu... eu... eu...

 

NICO:- E pensar que a chuva pode estar logo ali... Pingo de chuva em minhas mãos. Fecho os olhos e vejo meus pés no chão, o barro em volta dele, a água caindo sobre minha cabeça, escorrendo pela testa, fazendo uma cascata pelo nariz, indo dar nos lábios. Aí sinto o gosto de chuva. Escorre pelo meu corpo até os pés, até o chão, formando uma poça d'água. E como num espelho vejo meu rosto. O rosto de um homem que sonha com moinhos e gigantes. E a chuva...

 

LAU:- Tá bom. Então eu vou dormir pra ver se eu sonho com um belo prato de comida.

 

NICO:- Cuidado para não ter uma congestão. Boa noite! Durma bem, sonhe com os anjos e acorde feliz e com saúde!

 

 

Os dois preparam-se para dormir. Cobrem-se com um pano, ficando de fora OS PÉS FALANTES.

 

 

Cena 6.

 

OS PÉS FALANTES: cena de pantomima executada apenas com as solas dos pés como bonecos. Utilizam-se os pés de todos os atores, reunindo um grupo de vários bonecos em cena, fazendo uma coreografia ao som da música CANTANDO NUM TORÓ. Ainda dormindo, sonham com a pedra dos sonhos e ouvem-na, em off.

 

 

PEDRA DO SONHO:- Eu sou a pedra dos sonhos e só me comunico com quem tem sonhos musicais... Você, Nico, e você, Lau, são muito corajosos e respeitadores da vida e da natureza... Por isso eu vou ajudá-los: vocês vão encontrar o ladrão da chuva, mas para isso terão que viver várias aventuras. Quando o encontrarem, vocês saberão que é ele porque ele vai contar uma história complicada e vocês vão perceber que eu fiquei vermelha. Não se esqueçam: olhem para mim. Se eu estiver vermelha é porque... ter-mi-nou o meu tem-po... Bo-a sor-te...

 

 

Nico e Lau acordam espantados.

 

 

NICO:- Que sonho estranho...

 

LAU:- Pedra que fala... que coisa!

 

 

Percebem que se encontram num local poluído, cheio de fumaça, buzinas, ronco de motores, automóveis cruzando por eles.

 

 

LAU (desviando dos carros):- Socorro! Ai, minha mãezinha, onde é que eu estou? Me tira daqui, pelo amor de Deus... Essa sua mania de sonhar, de ficar sonhando com pedra falante, olha no que deu. Ai, que fedentina.

 

NICO:- Isso não é um sonho, é um pesadelo. (Pergunta para um dos carros.) O senhor pode informar onde nós estamos?

 

Carro:- O senhor poderia falar mais alto, pois não estou ouvindo...

 

NICO (berrando):- O senhor poderia informar onde nós estamos?...

 

Carro:- Não precisa gritar. Tá pensando que eu sou surdo? Nós estamos na cidade, na metrópole. O progresso! Esta maravilha! Não está vendo?

 

NICO:- Maravilha?!! O que há de maravilha nisso?

 

CARRO:- Ih! Moço: agora está uma beleza... Desde que roubaram a chuva, acabaram as enchentes... eu não corro mais perigo de ficar boiando no meio da rua... não estraga meu motor... não estraga meu estofamento...

 

LAU:- Que absurdo, Nico... Eles não gostam de chuva...

 

NICO:- Que fumaça! Que mau-cheiro! Isso pra mim é um pesadelo!

 

LAU:- Cadê a pedra do sonho?

 

NICO:- Não adianta... nem a pedra do sonho resolve. Vamos cair fora, antes que a gente pegue uma porção de doença... Temos que continuar a buscar a chuva, se não até a cidade grande, com toda essa poluição, vai acabar morrendo...

 

 

 

Nico e Lau saem correndo cantando a música Cantando no Toró. Cruzam com o Bloco do Siriri do Mato Grosso e cantam junto:

 

 

 

Seu Batacão saiu pra passeá

Foi comprá confete para o carnavá

 

 

O viva o nosso broqueo o broqueo da beleza

carça de franela camisa de seda japonesa

 

 

 

A pomba, meu coração

Voou e foi embora

Depois do carnavá

O povo desta terra também chora

 

 

Chorá por quê?

Num chora não!

A saudade da estrela

Vai morá no coração.

 

 

Sai o bloco. NICO e LAU continuam cantando.

 

 

NICO:- Roda moinho, roda peão, bola de gude estalando no chão. Saudade de casa!

 

LAU (que não consegue parar de cantar):- Vou sentir saudade dessa nossa viagem...

 

 

Lau pega um punhado de terra e areia para guardar em sua lancheira.

 

 

NICO:- Guardando terra e areia na lancheira pra quê?

 

LAU:- Pra quando estiver em casa recordar essa nossa andança. Quando bater a saudade, sabiá cantando ao longe, fechar os olhos, apanhar esse punhado de terra e areia que daí vem a lembrança.

 

NICO:- Mas tu tá é doido, doido varrido... Ter saudade de seca? Ter saudade de areia sem água de rio ou de mar? A gente tem que ter saudade é da chuva, dos tempos de água da boa! Olha: minha língua tá tão seca, mas tão seca, que parece lixa...

 

LAU:- A minha tá mais... Olha: a minha língua tá tão seca, tão seca, mas tão seca... que não cresce nem mandacaru.

 

NICO:- E desde quando mandacaru cresce na língua? Já tá variando de tanta sede...

 

LAU:- Acho que estamos sendo seguidos.

 

NICO:- Seguidos, nada. Essa sua cabeça é que é cheia de caraminholas.

 

 

Entra Caipora seguido de dois enfermeiros malucos que, após muita confusão, conseguem apanhá-lo.

 

 

Enfermeiro 1:- Desculpem a confusão. É que o Caipora é assim, assim... meio maluco. Eu estava jogando sinuca quando ele se escafedeu.

 

Enfermeiro 2:- Escafedeu? Isso não é problema meu! Toma que o filho é teu!

 

Enfermeiro 1:- Pssssst! Não olha agora! Tem dois malucos olhando pra gente.

 

Enfermeiro 2:- Pra gente, não! Pra você!

 

 

Um ator sai da coxia.

 

 

Ator:- O que vocês estão fazendo aqui?

 

Enfermeiro 1:- Eu sou o Maluco número 1. E ele é o Maluco número 2.

 

Enfermeiro 2:- Não! Está errado! Eu é que sou o Maluco número 1 e ele o número 2!

 

Ator:- Mas vocês entraram na peça errada. O teatro de vocês é ali ao lado.

 

Enfermeiro 1:- Mas a gente pode explicar...

 

ENFERMEIRO 2:- ... doido também sabe explicar...

 

ENFERMEIRO 1:- ... é que estávamos fazendo uma peça no outro teatro...

 

ENFERMEIRO 2:- ... com o Caipora aqui...

 

ENFERMEIRO 1:- ... que é o protetor das florestas...

 

ENFERMEIRO 2:- ... só que as florestas estavam todas pegando fogo...

 

ENFERMEIRO 1:- ... porque roubaram a chuva...

 

ENFERMEIRO 2:- ... que até o Caipora fugiu...

 

ENFERMEIRO 1:- ... nós fugimos atrás dele...

 

ATOR:- Mas que historinha mais mal contada! Chô! Fora daqui... Fora!

 

 

Som de sirene: eles saem de cena correndo. Nico e Lau se entreolham, fazem gestos de “tudo doido” e continuam caminhando.

 

 

 

NICO:- Que lindo dia!

 

LAU:- Que lindo sol!

 

NICO:- Que saudade!

 

LAU:- Que saudade!

 

NICO:- ... da comida de minha mãe...

 

LAU:- ... do cafuné de meu pai...

 

NICO:- ... das broncas de minha irmã...

 

LAU:- ... quando eu puxava a trança dela...

 

NICO:- ... quando eu puxava a orelha dela...

 

LAU:- ... e agora nós aqui...

 

NICO:- ... e agora nós aqui...

 

LAU:- ... neste deserto...

 

NICO:- ... sem água...

 

LAU:- ... sem carinho...

 

NICO:- ... sem um ombro amigo...

 

 

Os dois se abraçam, comovidos, quase chorando, fazendo carinho um no outro.

 

 

LAU:- Puxa, amigo, nunca pensei...

 

NICO:- Nunca pensou o quê, amigo?

 

LAU:- Nunca pensei...

 

NICO:- Nunca pensou o quê, amigo?

 

LAU:- Nunca pensei que você tivesse o cheiro de minha namorada...

 

NICO:- Você também, é tão fofinho quanto a minha namorada...

 

 

Os dois caem em si e dão boas risadas. Nico abre a mochila e tira uma planta murcha.

 

 

NICO:- Ih! Olha o que aconteceu com a planta que eu cultivava com tanto carinho para dar pra minha namorada... Murchou... morreu...

 

 

Lau tira da mochila uma gaiolinha com um passarinho morto.

 

 

LAU:- E o passarinho tão bonitinho... que cantava tão feliz... presente de minha namorada para mim... Morreu!

 

NICO E LAU:- Sem chuva... tudo vai morrer!

 

NICO:- Plantas...

 

LAU:- Pássaros...

 

NICO:- Flores...

 

LAU:- Bichos...

 

 

Os dois choram, de novo abraçados.

 

 

NICO:-  Espere... Será que vai chover?

 

LAU:- Chover? Chuva? Cadê? Onde?

 

NICO:- Foi só um pensamento. Nem sinal da chuva, uma gotinha sequer.

 

LAU:- Nenhuma gota!

 

NICO:- Nem sinal de quem nos roubou a chuva.

 

LAU:- Onde estarão os gatunos?

 

 

Música: Onde Estarão os Gatunos?

 

Onde estarão os gatunos?

Onde os gatunos estão?

 

Estão no Oriente a serviço de um Sultão?

Fugiram de trem pro Japão?

Ou por aqui plantando feijão?

 

Onde estarão os gatunos?

Onde os gatunos estão?

 

 

Ao final da música, aparece Orobu se disfarçando para mais um golpe.

 

 

OROBU:- Já tenho a chuva... já tenho o rádio... E eu tinha um sonho... mas não consigo mais me lembrar... Eu preciso me lembrar do meu sonho... Que droga! O que eu devo fazer com essas coisas? Eu tenho poder... com a chuva, com o rádio... Mas não consigo mais sonhar... Para a gente conseguir alguma coisa, tem que sonhar... Mas como, se eu não consigo mais... A pedra... a pedra do sonho! É isso! Era a pedra do sonho que me fazia sonhar... sonhos loucos, eu acho... mas eram sonhos... Eu preciso recuperar a pedra... Para isso, eu preciso daqueles dois bocós que estão procurando a chuva... Se eu os convencer a me devolver a pedra do sonho, eu posso voltar a ser... sei lá o quê... mas deve ser muito legal aquilo que eu sonhava....  Vou-me disfarçar de professor Ribamar, o vendedor do elixir mágico, para ver se consigo deles me aproximar... Tchan... tchan.. tchan...

 

 

APRESENTADOR:- Senhoras e senhores aqui presentes,

Temos o prazer de apresentar

O professor, artista e vidente

Que a todos vai alegrar!

 

Se a tristeza estiver presente,

Um causo ele pode contar!

E agora com vocês

O Grande Professor Ribamar!!!

 

 

Prof. Ribamar:- Boa noite, senhoras e senhores,

                 Eu sou o Professor Ribamar

                 E a sua vida sou capaz de consertar.

                 Um caso de amor mal resolvido,

                 Um gato desaparecido,

                 Basta tomar este elixir,

                 O elixir da sorte!

       

                 Mas se o seu caso é mais grave,

                 Assim como um sol desaparecido,

                 Uma lua escondida,

                 Eu também posso resolver.

 

                 Os dois cavalheiros posso ajudar?

                 Basta o seu problema me contar.

 

NICO:- Roubaram a nossa chuva!

 

Prof. Ribamar:- Um caso difícil, sem dúvida. Mas eu posso solucionar. Mas para isso um causo eu tenho que contar:

 

                 Nas minhas andanças pelo mundo,

                 Num pais muito estranho eu fui parar,

                 Eles eram diferentes em tudo,

                 No jeito de vestir e de andar,

 

                 Quando aqui era dia, era noite por lá.

                 Se aqui se dava boa-noite,

                 Dava-se bom-dia lá.

 

                 Aqui banho de sol, banho de lua lá.

                 Acho que vocês já sabem de que país eu vou falar:

                 A China!

E como tinha Chinês! Nunca vi tantos em toda a minha vida. Mas eu conheci um muito especial, o Professor Ling Ching Ling, um sábio chinês, que em certa ocasião narrava um conto muito interessante... Eu, Professor Ribamar, cientista estudioso e curioso, me aproximei e perguntei: Wang chang dung lung ding? Ele respondeu: ding lung dung chang wang... E disse mais: tung lang wang, leng ling tuang weng... E tudo isso quer dizer – eu traduzo: o pássaro que leva a chuva no bico está ferido... é preciso que alguém devolva ao seu verdadeiro dono a pedra do sonho e recolha muito dindim, dinheiro, bufunfa, arame, grana para que ele volte a fazer chover...

 

 

Nico cutuca Lau e mostra a pedra. Ela está vermelha.

 

 

NICO:- Olha, Lau... a pedra... ela está vermelha...

 

LAU:- Deve ser de vergonha... depois de ouvir tanta besteira...

 

NICO:- Você não se lembra do sonho?

 

LAU:- Sonho? Que sonho? Ah! Já sei: o sonho do pesadelo do...

 

NICO:- Não, seu besta, o sonho com a pedra falante...

 

LAU:- É mesmo... a pedra falante... ela ficou vermelha...

 

NICO:- Então...

 

LAU:- Então...

 

 

Os dois pulam em cima do prof. Ribamar e tiram-lhe o disfarce.

 

 

NICO E LAU:- Orobu!

 

NICO:- Então é você o ladrão...

 

 

Lau descobre o regador com a chuva.

 

 

LAU:- Olha aqui a chuva...

 

NICO:- Seu safado... você não tem respeito... O que você ia fazer com a chuva, hem? Me diga: o quê?

 

OROBU:- Não... não... sei... eu esqueci... Acho que ia pedir dinheiro...

 

LAU:- Esqueceu? Ele esqueceu... depois de quase acabar com o mundo... deixar bichos, pessoas, plantas sem água... ele esqueceu!

 

OROBU:- É... eu esqueci... meu sonho... Meu sonho estava na pedra do sonho... sem sonho... eu esqueci...

 

NICO:- Fica aí gaguejando... sem dizer coisa com coisa... O que tem a pedra do sonho com suas patifarias, seu Orobu malandro?

 

OROBU:- Você me devolve a pedra do sonho? Devolve?

 

LAU:- Devolve... devolve nada... Esse safado não merece... Esse sonho de querer mandar em todo mundo é muito ruim...

 

OROBU:- Eu... eu... prometo... só ter sonhos bons...

 

NICO:- Você promete?

 

LAU:- Não entra na conversa dele, Nico... Esse Orobu não tem respeito pela natureza nem pelas pessoas...

 

NICO:- Você está sendo muito radical, seu Lau, cara de mingau...

 

LAU:- Depois de tudo o que nós passamos, você vem me chamar de radical, seu Nico, cara de... de... de... não sei o quê... Eu estou é muito... muito... muito...

 

 

Nico dá um tapa nas costas de Lau, para ele desengasgar.

 

 

LAU:-... muito... pu... pu... pu... bravo!

 

NICO:- Ah... ah!... Estava tentando fugir?!

 

OROBU:- Perdão, eu peço perdão... Mas me devolve a pedra do sonho... e a chuva também!

 

LAU:- Eu não disse?... Ele está querendo enganar a gente...  Vamos colocá-lo na cadeia...

 

OROBU:- Não! Cadeia, não! Eu prometo... eu prometo o que vocês quiserem...

 

NICO:- Promete, mesmo? Você está sendo sincero?

 

LAU:- Que é isso, Nico, querendo dar colher de chá para esse facínora?...

 

NICO:- Lau, vem cá...

 

 

Os dois confabulam por alguns instantes, enquanto o Orobu fica tentando ouvir.

 

 

LAU:- É... é razoável... tudo bem...

 

NICO:- Fica combinado que o senhor Orobu, aqui presente, não terá mais sonhos de domínio, de conquista, de desrespeito às pessoas e à natureza...  Quanto à chuva...  a chuva é um bem de todos e ninguém poderá ser seu dono e todos nós teremos  por obrigação cuidar dos rios, das fontes, da água, para que a humanidade não passe o que eu e o meu amigo Lau passamos: sede... fome... sufoco...

 

LAU:- E por via das dúvidas, o Orobu vai passar um tempinho na cadeia... para criar vergonha na cara!!!

 

NICO E LAU:- Todos concordam?

 

 

Nico e Lau pegam a chuva, molham o Orobu, prendem-no e saem num corso, ao som da música CANTANDO NUM TORÓ.

 

 

 

 

 

FIM

 

 

quarta-feira, 25 de outubro de 2000

quinta-feira, 22 de março de 2001

 

 

 

 

 

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