quarta-feira, 28 de abril de 2021

O JULGAMENTO DE GOYA

 

 

(Goya- Maja vestida)

    

ISAIAS EDSON SIDNEY

Tel.(11)5011-9628

SBAT – 34.571

 

RESUMO

   

“Quadros dramáticos” que se sucedem a partir de uma situação básica: casal, ao fugir de uma perseguição, passa a noite numa sala de museu onde existe uma reprodução da Maja Desnuda, de Goya. Procura-se discutir a situação da mulher, na sua relação com o universo masculino, num jogo de claros e escuros que revela o lado negro de vidas humanas.

 

PERSONAGENS

 

UM HOMEM E UMA MULHER

 

SBAT

 

34.571

 

AUTOR

 

ISAIAS EDSON SIDNEY

 

RUA DOS BURITIS, 251 – JABAQUARA, SÃO PAULO – SP

CEP – 04321 – 001

 

Telefone: (11)5011-9628

 

 

LEITURAS DRAMÁTICAS

 

 

1ª LEITURA: SEMDA (SEMINÁRIO DE DRAMATURGIA DO ARENA): 6.5.97

·      DIREÇÃO: LUÍS SERRA

·      ATORES: MAIRA GALVÃO e ANDRÉ LATORRE

 


2ª LEITURA: PROJETO LETRAS EM CENA / MASP: 27.10.08

  • DIREÇÃO: CLÓVIS TORRES
  • ATORES: THALITA LIPPI E CLÓVIS TORRES

 

  • 3ª LEITURA: CEMUR DE TABOÃO DA SERRA: 30.8.17
  • DIREÇÃO: WALTER COSTA
  • PRODUÇÃO: CACAU E JORGE JOSÉ
  • ATORES: BABY SOARES E EDSON LUPE
  • LOCUÇÃO/LEITURA DE LEGENDAS: EDDIE FERRAZ

  

CENÁRIO:  Um palco absolutamente despojado: dos lados, cortinas azuis e ao fundo uma reprodução no maior tamanho possível da Maja Desnuda, de Goya. Diante da tela, um banco de estofado preto, desses que normalmente se vêem em museus, sem espaldares. Quando se abrem as cortinas, de cada lado desse banco vêem-se um homem e uma mulher, de costas para a platéia, contemplando o quadro extáticos e em silêncio. Depois de trinta segundos, ouve-se um aviso pelo alto-falante, num som metálico que deve tomar todo o espaço, de que o museu irá fechar dentro de cinco minutos. Esse aviso se repete mais três vezes, depois do que ouvem-se ruídos de portas sendo fechadas e trancadas. Cai um silêncio total e absoluto, por cerca de trinta segundos.

 

MULHER: - Você ouviu?

 HOMEM: - É quase um murmúrio...

 MULHER: - De dor?

 HOMEM: - Prazer!

 MULHER (acentuando o verbo):- Ela vive!

 HOMEM (acentuando o pronome):- Ele vive!...(Pausa) O artista...

 MULHER: - E eu morro...

 HOMEM: - Exagero.

 MULHER: - Foram demais para mim... (vira-se para a platéia e baixa a cabeça) ... aqueles momentos...

 HOMEM (afastando-se lentamente da mulher, ainda de costas e aumentando gradativamente a voz até um grito quase animal):-  Os momentos vividos já estão mortos e enterrados, deixe os mortos em paz! (Vira-se, vai até o banco, senta-se com o rosto entre as mãos. Chora.)

 MULHER: - Sem o passado, eu morro! Você sempre soube disso...

 HOMEM: - A guerra... a guerra me fez esquecer...

 MULHER (aproxima-se do homem e ergue-lhe o rosto com fúria):- Olhe... olhe para mim... mentiroso... canalha! Onde... onde as cicatrizes de tua guerra? Onde o brilho dos obuses em teus olhos? Onde o ricochete das balas em teus ouvidos?

  

(Pausa. A mulher caminha até a outra ponta do banco. Senta-se, tenta ajeitar os cabelos, a roupa... O homem já não chora, mas permanece imóvel numa expressão abestalhada).

  

MULHER: - Não devíamos... eu sei, não devíamos... agora é tarde. O que quer que eu faça? O quê? (Silêncio). Eles estão lá fora e nosso destino talvez nem nos pertença mais!...

  

(O homem vai até atrás do quadro e arrasta para frente um baú. Dele tirarão todos os objetos a partir de agora).

 

 MULHER: - Você vai fazer? Jura? E vai até o fim?

  

(O homem pega um xale negro. Lenta e cerimoniosamente, ajeita-o sobre a cabeça e ombros da mulher). 

  

HOMEM: - Madonna...

 MULHER: - A... a mãe de Deus?...

 HOMEM: - Assim não dá... Você destrói qualquer possibilidade...

 MULHER: - Desculpe... Eu sei... ainda não estou pronta... Deixe eu sonhar um pouco... (Pausa). Tentemos de novo... Agora...

 HOMEM: - Madonna... (contorna-lhe o corpo com as mãos, a uma certa distância, em êxtase). Senhora de todas as guerras...

 MULHER (gritando):- Não! Guerra, não! (Amuada). Guerra, não... você sabe... não posso...

 HOMEM: - Foi para isso que eu nasci... para a guerra... Nada mais sei... além de... você sabe...

  

(Neste momento, um ruído imenso de multidão enfurecida, de gritos, de tinir de metais faz-se ouvir. Os dois se abraçam aterrados, até que o barulho cessa).

  

HOMEM: - Eles vão nos encontrar... eles vão nos encontrar...

 MULHER: - Eles sempre encontram... E eles são como bestas selvagens...

 HOMEM: - Você! Você é que os atrai! Você!

 MULHER: - Não diga bobagens... Eles querem tanto a mim quanto a você...

 HOMEM: - O tempo... o tempo está a nosso favor...

 MULHER: - O tempo não existe... Pelo menos aqui... Vamos fazer o que combinamos e pronto... o resto... bem, o resto fica por conta deles...

 HOMEM: - Eu não quero mais... Chega! Você sempre decide tudo... Não quero... acabou...

 MULHER: - E como você acha que pode sair daqui, meu amor... Contando seu passado para eles? Lutando com esta sua espada que já não serve para nada? Ou você acha que eles acreditarão nas suas fanfarronices?!

 HOMEM (humilhado):- Está bem... Se é assim, assim será!

  

(O homem veste, retirada do baú, uma velha farda. Senta-se no meio do palco, com a espada encostada ao nariz, em silêncio, como se estivesse meditando. A mulher enrola sobre a cabeça o xale negro e coloca uma prótese de nariz de bruxa, enorme e cheia de rugas. Desce do alto uma corda. Ela começa a balançar-se nessa corda, em círculos em torno do homem, cada vez mais rapidamente. Tudo isso no mais absoluto silêncio).

  

HOMEM (abrindo os olhos):- É você, sua bruxa? Por que demorou?

 MULHER: - O caldeirão te espera... general... o caldeirão te espera... (Salta sobre o homem)... Ou você pensa que tudo é possível? (Lutam por algum tempo, até que a mulher fica sobre o homem deitado de bruços. Ela simula um ato de sodomia. Ele geme). General de merda! General de batalhas perdidas... Não há perdão para os teus crimes!

 HOMEM: - É mentira! Eu lutei! Eu lutei! (Desvencilha-se da mulher e, tomando da espada, passa a ameaçá-la). Todos lutaram! O inimigo era mais numeroso!

 MULHER: - Mais numeroso!... (Gargalha). Numerosos foram os homens que seduziste... teus subordinados... Todos! Todos! (Num movimento rápido desarma o homem). E agora ousas ameaçar-me!

 HOMEM: - Bruxa escrota! A Santa Inquisição vai...

 MULHER: - ... vai pegar nós dois! Nós dois!

  

(Em posição de luta, ambos rodam em torno um do outro. Num salto rápido, o homem consegue imobilizar a mulher, por trás, com um punhal em sua garganta, numa pose semelhante ao quadro “Selvagens assassinando uma mulher”, de Goya).

  

HOMEM: - O fio de meu punhal calará tua boca vil!

 MULHER: - Vai! Degola-me! Foi assim, então, foi assim...

 HOMEM: - Tua língua te servirá de forca, maldita!

 MULHER: - Enquanto dormiam... Todos eles... Os teus homens... aqueles mesmos que te possuíram... Tu os degolaste! Um a um... Todos... Todos! (Mudando de tom, com bastante sarcasmo). Morreram como heróis... morreram como heróis... Até medalhas fizeste o rei conceder-lhes... Os teus heróis... os teus heróis lambedores de cu!...(O homem, extático, com os olhos esbugalhados de horror, deixa-se desarmar sem resistência. A mulher pega o punhal, o xale e o nariz de bruxa e guarda tudo no baú. O homem continua na mesma posição ridícula. Ela contorna-o, de forma zombeteira e volta a falar normalmente). T’aí! É só cutucar um pouquinho, que ele fica catatônico! Vamos, cara, tudo isso é uma merda só, não adianta sofrer por tão pouco... O futuro...

 HOMEM (desfazendo a pose ridícula e agarrando a mulher pelos ombros e sacudindo-a):- Futuro... que futuro podemos ter? Diga! Eles estão lá fora... esperando por nós... (escandindo as sílabas) E não há ninguém para nos ajudar!

 MULHER (desvencilhando-se do homem e saltitando alegremente):- Vamos... vamos brincar mais... agora eu quero que você...

 HOMEM: - Você não quer porra nenhuma. Chega! É a minha vez...

 MULHER: - Não! O jogo sempre foi seu...

 HOMEM: - Dominar não basta... é preciso mais... Vamos!

 

(Estende-lhe um traje rústico).

 

HOMEM: - Vista isto. Você é uma maria qualquer, de qualquer tempo...

 

(Enquanto a mulher se veste, ele também coloca uma espécie de roupa árabe, negra, botas, esporas e pega um chicote).

 

HOMEM: -  Teus desejos não são desejos... tuas palavras são apenas o murmúrio do regato: estão lá apenas porque as águas do regato não podem parar de correr...

 

(Estala o chicote).

 

HOMEM: - Vem... vem lamber minhas botas, filha de tua mãe...

 

(A mulher obedece).

 

HOMEM: - Devias ser o que não és... Nasceste para nada...

 MULHER: - Espera! Vou contar-te... antes que eles voltem... Nasci no deserto... primeira filha de inúmeros irmãos... nem sei quantos... pobreza... Pobreza, não: miséria! Tu vieste, com teu cavalo branco e vestes negras, para me salvar... E eu te amei... por todos os deuses do mundo, eu te amei!

 HOMEM: - Conta... tua vida... tua infância... Não! Tua infância, não! Já a conheço! Conta teus desejos... aqueles... os mais secretos... os mais íntimos...

 MULHER: - Uma vez... era ainda menina... seis anos, talvez... eu sonhei... Sonhei com um deus que vinha me buscar... sua espada flamejante... enorme... ele a enterrava em meu peito... Mas não era dor o que eu sentia... era... era algo que só mais tarde vim a compreender... mas aquilo... no meu corpo de menina, trazia o prazer da chuva após a estiagem... era como o doce tantas vezes desejado após um prato de feijão amargo... era o céu... era a glória... a glória de Alá no inferno de uma vida sem nada... Você me compreende? Diga que me compreende! Não era um prazer da mente... do pensamento... era mais... mais profundo... na carne... no ventre... no corpo todo... E no sonho, eu morria... morria para renascer num campo verde, de um verde que eu não conhecia... com árvores imensas e pássaros coloridos... e fontes... muitas fontes... loucas fontes... onde o prazer se renovava no contato da água com meu corpo... Eu era a esposa do deus... eu era o meu próprio sonho...

 HOMEM: - E você contou esse sonho... esse delírio para alguém... Contou?

 MULHER: - Estúpida... mil vezes estúpida...

 HOMEM: - Ingênua, talvez...

 MULHER: - Que os demônios de todos os infernos me amaldiçoem para sempre... Não devia... Nunca... E eu sabia o que podia acontecer... Mas era o meu sonho... Ninguém tinha o direito de violar o meu sonho... ou o meu pesadelo... Ele era meu, só meu!

 HOMEM (agora transformado em Pai, ameaçador):- Mulheres! Malditas mulheres! Nem em seus sonhos podemos confiar! Levanta, maldita! Eu sou o teu pai... o teu dono... o dono do teu destino...

 

(A mulher levanta-se. Ele a esbofeteia, ela cai).

 

HOMEM: - Não te pus no mundo para que pudesses desonrar-me...

 MULHER: - Mas és o meu cavaleiro negro... o meu salvador... Como podes dizer-me tais palavras? Não existe desonra no amor... no sonho...

 

HOMEM: - Blasfemas! Blasfemas contra Alá? Teu castigo, miserável, será a morte, se não te arrependeres! Vamos: pede perdão...

 MULHER (chorando):- Perdão! Perdão, meu Pai! Perdão!

 HOMEM (chicoteando-a):- Imbecil! Pede perdão ao nosso deus, não a mim... Pecaste contra o Profeta... contra a lei de Alá... A ele deves misericórdia...

 MULHER: - Deus... Profeta... Alá... Que os céus me perdoem... eu sou apenas uma menina, meu Profeta, uma simples criatura que uma noite teve um sonho... um pesadelo.. Perdoa... Serei apenas mulher... para servi-lo... para seguir tuas leis... Perdoa...

  

(Silêncio. Ambos ficam extáticos, por alguns instantes. A mulher, aos poucos, pára de chorar, arrasta-se até o homem e abraça-lhe as pernas. Ele está com a espada erguida, olhando para o alto, em transe.)

  

MULHER: - Meu pai... o que o senhor irá fazer comigo?

 HOMEM: - Eu? Nada. O evento dirá. Fique em silêncio. Escuta. Alá nos fala. Ele dirá o que fazer!

  

(Neste momento, um ruído imenso de multidão enfurecida, de gritos, de tinir de metais faz-se ouvir de novo. Os dois permanecem extáticos, até que o barulho cessa).

  

MULHER: - Os deuses estão me julgando...

 HOMEM: - Já deram sua sentença... Não podes continuar mulher... Tua mãe já devia ter feito isso quando nasceste... Tem de ser agora...

  

(Pega a Mulher, arrasta-a pelos cabelos até o banco, deita-a sobre ele com uma  perna para cada lado, vai até o baú, toma um instrumento cirúrgico de corte, semelhante a um alicate, levanta o vestido da mulher, introduz-se sob ele, arranca-lhe com força uma peça íntima. Somente um foco de luz realça a expressão de horror e dor no rosto da Mulher, como um grito longo e silencioso. A iluminação destaca, agora o  Homem, que sai de sob suas vestes com as mãos ensangüentadas. Ergue o instrumento e grita).

  

HOMEM: - O gozo é privilégio dos deuses... O gozo é privilégio dos deuses...

 

(Blackout. Quando as luzes se acendem, estão amuados, cada um num canto).

 

MULHER: - Você sabe que eu te amo... Mas não te conheço...

 HOMEM: - O conhecimento virá com a convivência.

 MULHER: - Meu pai dizia que o amor é que vem com a convivência.

 HOMEM: - Deixei tudo por você: mulher, filhos, posição...

 MULHER: - ... e ganhamos os lobos que uivam lá fora à nossa procura...

 HOMEM: - Não podemos condená-los...

 MULHER: - Nós somos os condenados...

 HOMEM: - Diga, vamos, diga que se arrependeu! Diga que não me ama... e acabemos com tudo isso... abramos a porta deste... deste... mausoléu!... Deixemos que os lobos destrocem nossas vidas!... Você volta para aquela sua vidinha de sempre, para o seu mundo medíocre ao lado de um marido medíocre e eu... bem, eu... você sabe... serei apenas mais uma fruta madura dependurada no galho podre de uma árvore... a fertilizar a terra com o esperma de meu último gozo... e o meu último gozo não virá apenas pelo sufoco da corda em meu pescoço... Eu te juro: será o meu último gozo o espasmo de meu último pensamento em você... Para você, sua louca, eva, eva e serpente, serpente e mulher, mulher de todas as eras, de todos os tempos...

 MULHER: - Você está exagerando, meu amigo, meu amado... Sou apenas aquela que ousou... aquela que caiu em si mesma, não só por seu amor... Tá, tá, tá... eu te amo... mas não foi apenas esse amor que me fez chegar até aqui... Eu precisava, como direi, eu precisava respirar... eu precisava sentir um pouco, apenas um pouco, do gosto da liberdade... e não posso cair em nova armadilha. Seus braços podem ser fortes para terem desatado o nó da minha vida, mas podem, também, esconder uma nova prisão... Não sou eva, não sou forte, não sou exemplo... Sou apenas um ser humano em busca de si mesmo... Vamos, ajude-me... Eu preciso tanto de você!...

 HOMEM: - Depois de tudo o que eu fiz, você diz que precisa de mim!... Qual de nós dois é o mais forte? Qual de nós dois é o mais fraco? Quem precisa de quem, afinal?

 MULHER: - O jogo dirá... Joguemos! Joguemos mais uma vez... e outra... e outra mais... quantas vezes forem necessárias... para que eu possa te encontrar e você possa me ver como eu sou realmente... Vamos! Fale-me de seus desejos mais ocultos... eu também me abrirei... Combinado?

 HOMEM: - Está bem... o que eu penso, o que eu acho, tudo isso está no lado obscuro... Joguemos um para o outro, até que a verdade fique nua...

  

(Após o blackout, três focos de luz destacam o rosto do Homem, da Mulher e da Maja. Os dois estão sentados, nus, cada um numa ponta do banco, de costas um para o outro. Ela tem a cabeça baixa e ele, lentamente vai-se virando em direção ao quadro).

  

MULHER (com sotaque caipira): - Zé... Zé... óia pra eu... Zé... Ocê só sabe vê essas muié pelada... Óia pra eu... eu tamém tô pelada... ocê num tá veno? Se ocê me oiá, ocê vai me vê, Zé!...

 HOMEM (apertando o ventre, masturbando-se):- Num posso... num posso te oiá, Maria... num posso... ocê é pura... vai sê minha muié...

 MULHER: - Nóis se vai deitá junto, Zé... Nóis vai sê marido e muié... E ocê vai tê de vê eu pelada, iguar essas daí...

 HOMEM: - Ai, Maria... ai... e eu só sei gozá com muié de figura...

 MULHER: - Nóis vamo sê feliz, Zé... vivendo um pro outro... prantando nossos fio nesse chão de Deus...

 HOMEM: - Ai, Maria... ai... e eu só sei gozá com muié de figura...

 MULHER: - Nossos corpo, Zé, será um só corpo... nossos coração vai batê numa só batida... e a terra vai sê generosa com nossos gozo...

 HOMEM: - Ai, Maria... ai... e eu só sei gozá com muié de figura...

  

(O Homem goza, um tanto caricatamente. Pausa. Com passos lentos aproximam-se do baú e vestem, lentamente, roupas características do século XVIII. Uma música da época começa a tocar e os dois dançam uma espécie de quadrilha. A fala, agora, é afetada).

  

HOMEM: - Duquesa, encantais-me com vosso sorriso...

 MULHER: - Manda o bom tom que uma dama jamais responda com galanteio ao galanteio de um cavalheiro... mas sois vós quem me encanta... vosso porte e maneiras provocam arrepios em minha espinha...

 HOMEM: - Espanta-me vossa ousadia, Duquesa... coram-me as faces...

 MULHER: - Cavalheiro, vossa fama é a de serdes bom de cama... Deixemos o protocolo... No meu palácio ou no vosso?... Perdão... esqueceu-me que viveis de favor em palácios de amigos ricos e poderosos... Não tendes palácio, apenas a vossa destreza com palavras e com a espada... que tendes afiada entre vossas pernas... Já sei: iremos para o campo... para o palácio de inverno de meu amante...

 HOMEM: - O príncipe de...

 MULHER: - Calai-vos... não ousem vossos lábios pronunciar-lhe o nome... Sim, o Príncipe... Suas terras são tão extensas, que uma raposa assustada por mastins famintos não a percorre em uma semana de corrida... Lá estaremos bem...

 HOMEM: - Mas, senhora, e vosso marido?... Não vos compreen...

 MULHER: - Vós sóis, para mim, a esperança de novos dias de glória na corte... Ouvi: devo contar-vos minha história, para que tudo fique muito claro entre nós... Conheço vossa fama... Sei que muitas donzelas suspirosas em vosso leito se desfolharam como rosas ao vento... sei que muitos casamentos sólidos se desfizeram ante a vossa ousadia... Sois o amante perfeito... Escândalos seguem sempre os vossos passos...

 HOMEM: - Mas, Duquesa, eu vos amo...

 MULHER: - Sim, amais-me... como a tantas... Calai-vos... Sois a caça, não o caçador...

 HOMEM: - Jamais podia imaginar-me em tal...

 MULHER: - Como tagarelais!... Aliás, essa é outra fama que vos acompanha... a gabolice... não vos contentais com a conquista: toda a cidade precisa saber, desde o mais mesquinho taberneiro até a cozinheira da rainha... Isso vos torna ainda mais interessante para os meus desígnios...

  

(Ele tenta falar mais vez, ela tapa-lhe a boca com um beijo).

  

MULHER: - Ouvi: sereis meu amante, o que satisfará  duplamente o vosso ego: dormir com a esposa do duque e com a amante do príncipe... Mas eu vos darei mais: aquilo que perseguistes até agora inutilmente - riqueza...

 HOMEM: - Estais comprando-me...

 MULHER: - Escrúpulos? Oh! Que escrúpulos podeis ainda ter? Se vos despirdes dessas roupas elegantes, deixareis expostos os trapos que trajais como roupa de baixo... Se vos virarem de cabeça para baixo, nem uma pobre moeda recusável pelo mais miserável pedinte cairá de vossos bolsos... E viestes para a corte em busca de fama e riqueza! A primeira, embora discutível, já a ganhastes, mas riqueza, meu belo jovem... ah! essa está muito longe de vossos horizontes... E eu sou a vossa oportunidade... Não me venhais com escrúpulos...

 HOMEM: - Sois a mais adorável das mulheres... a vossos pés me arrojo... para abraçá-los e beijá-los...

 MULHER: - Assim é que se fala! Abraçai-me... Agora vamos!

 HOMEM: - Uma única pergunta, minha senhora... Vosso marido, embora já ido nos anos, é rico e poderoso... Vosso fogo juvenil é aplacado no leito do Príncipe de... não, acalmai-vos, jamais lhe direi o nome... que, além de rico e poderoso, é jovem e forte... Todos sabemos que vosso marido jamais... como dizer?... nunca... eh!... sempre... é um corno manso, pronto, já disse, é um corno manso... Por que agora me tomais como amante? E mais: como amante pago? O que ganhareis com isso, duquesa, o quê? Dizei-me se é possível: o que ganhareis?

 MULHER: - O escândalo, meu belo amante... O escândalo!

  

(Caminham até o quadro, em silêncio, despem as roupas elegantes. A Mulher remexe o baú).

  

MULHER: - Em que ano estamos mesmo? Perco a noção do tempo...

 HOMEM: - 66... o ano da besta!

 MULHER: - Quantos badulaques... Veja o que encontrei (mostra-lhe duas lanternas e um livro). O que será que fazem aqui?

  

(Ela aproxima a lanterna do rosto do homem. A luzes se apagam. Apenas um foco azulado mantém o rosto da Maja semi-iluminado. Eles tomam um grande lençol, se abraçam, deitam-se sob ele com as lanternas acesas. Iluminam ora o livro ora o rosto das personagens).

  

HOMEM: - Castro Alves... o bom e velho Castro Alves... Ouve: “É noite, pois!  Durmamos, Julieta! / Recende a alcova ao trescalar das flores, / Fechemos sobre nós estas cortinas... / - São as asas do arcanjo dos amores.”

 MULHER (rindo-se e rolando com o Homem, ambos rindo):- Alcova! Trescalar das flores! Arcanjo dos amores! Que engraçado esse teu poeta...

 HOMEM (parando de rir):- Minha juventude... quanta vida se passou... a guerra...

 MULHER: - Já lhe disse: não fale de guerra!...

 HOMEM: - Antes... muito antes... sabe, eu estudava em colégio de padres... Mas não é disso que quero lhe falar... Quando fiz quatorze anos, estava me formando no ginásio... ganhei do meu padrinho um livro...

 MULHER: - Um livro... lá vem você...

 HOMEM: - Escuta: era um livro de poesias...

 MULHER: - De novo!...

 HOMEM: -  Camões, Os Lusíadas... Foi uma revelação... Li... li sofregamente... e reli... tantas e tantas vezes que, um dia, afinal, percebi algo estranho... O canto nono... faltava alguma coisa... a numeração dos versos pulava... Procurei me informar... Mas quem de minha família, tão simples e pobre, podia conhecer Camões? Só mais tarde, já no segundo ano do curso de Letras, descobri: os editores do livro tinham simplesmente cortado quase todos os versos do canto nono...

 MULHER: - Censuraram o teu Camões...

 HOMEM: - Censuraram o Camões... aqueles malditos padres que editaram o livro...

 MULHER: - O que tinha esse canto nono?...

 HOMEM: - O que tinha? Tudo! A vida! Os amores! A paixão! O tesão!...

 MULHER: - Você pirou de vez...

 HOMEM: - A ilha dos amores... quando os navegantes portugueses recebem da deusa o prêmio de suas conquistas... as ninfas... todas nuas... peladonas... aguardando aqueles homens rudes... sujos... cansados... Oh! quanta sensualidade lusitana! E eu perdi tudo aquilo...

 MULHER: - Perdeu? Agora é que você pirou mesmo... Você não leu tudo aquilo?... E não se deliciou?

 HOMEM: - Você não percebe... Eu já era homem... Aos quatorze anos, quanta punheta podia ter batido por aquelas ninfas!... Quantas punhetas perdidas, meu Deus!

  

(Rolam, riem e brincam com o facho das lanternas sob o lençol. Param um instante).

  

HOMEM: - Shhhh.... silêncio... Ouve...

  

(O ruído imenso de multidão enfurecida, de gritos, de tinir de metais faz-se ouvir de novo. Os dois permanecem extáticos, até que o barulho cessa).

  

MULHER: - Estão cada vez mais perto...

  

(Levantam-se, as luzes voltam ao normal, colocam o lençol e as lanternas dentro do baú. Mas a mulher continua a mexer nele, como se procurasse algo).

  

HOMEM: - Que diabo você tanto mexe nesse baú, Mulher?!...

 MULHER: - Dores... lembranças... desejos... Ah! Aqui está!...

  

(Tira duas espadas e lança uma delas ao Homem que, surpreso, não sabe o que fazer).

 

MULHER: - Vamos... lute... você é o Romeu que perdeu sua Julieta.. vamos... reconquiste sua amada... seja um homem... um guerreiro... um guerreiro que diz ter participado de uma guerra de merda... Vem...

  

(A princípio, de forma titubeante e depois, aos poucos, numa luta cada vez mais acirrada, os dois terçam armas).

  

HOMEM: - Não posso lutar contigo... Tu és a minha Julieta...

 MULHER: - Sim... Mas tua Julieta não te quer... ouviu... tua Julieta não te quer mais...

 HOMEM: - Não... por favor... eu te amo...

 MULHER: - Você já disse isso antes, meu querido... Está se tornando repetitivo...

 HOMEM: - Eu sei que nossas famílias...

 MULHER: - Não seja imbecil... nossas famílias nada têm a ver com isso...

 HOMEM: - Nós... nós nos amamos... vamos nos casar...

 MULHER: - Você me ama... mas eu não te amo mais...

 HOMEM: - Mentira! Agora mesmo...

 MULHER: - Casar! E você acha que vamos viver como? Me diga! Como?

 HOMEM: - Eu vou lecionar... e você pode trabalhar...

 MULHER: - Eu? Trabalhar? Você está louco! Eu quero viajar... ter casacos de pele... jóias... freqüentar a melhor sociedade...

 HOMEM: - Eu te darei a Lua... as estrelas... o meu amor...

 MULHER: - Você acha que teu salário de professor pode comprar tudo isso?

 HOMEM: - Um amor e uma cabana...

 MULHER: - A cabana que eu quero fica em Nova Iorque... em Paris... nos endereços chiques...

 HOMEM: - Infame!

 MULHER: - Rica!

 HOMEM: - Maldita!

 MULHER: - Invejada!

 HOMEM: - Traidora!

 MULHER: - Perfumada!

 HOMEM: - Vou matá-la!

 MULHER: - Esta Julieta, não!

  

(Num rápido golpe, a Mulher desarma o Homem e aponta o florete para o seu peito. Estão ambos cansados e arfantes).

  

HOMEM: - Mata-me...

 MULHER: - Sim... vou... matá-lo... mas não como pensa... Vou... matá-lo... aqui... no meu peito...

 

 (O Homem chora).

  

MULHER: - E dizem que... o homem não... chora...

 HOMEM: - Você... você... não chora nunca?...

 MULHER: - Nunca... Minto: chorei, sim... Uma vez... uma única vez... de emoção... quando consegui resolver uma complicada equação de segundo grau... mas eu era apenas uma menina... (Joga longe a espada). Inútil... Tudo isso é inútil... Venha... Somos amigos... Só não falemos de guerra...

  

(Toma-o pelos ombros e sentam-se no banco. Blackout. Em seguida, Mulher de pé, ao centro, sob foco de luz. Homem na obscuridade).

  

MULHER: - Eu era jovem... dezesseis... dezessete anos... não mais... Sonhava com uma vida melhor... sem pobreza... sem a miséria da casa do meu pai... Homem rígido, de princípios... mas pobre como Jó... pobre de grana e pobre de espírito... um pobre homem... Minha mãe, coitada, só tinha direito às rezas lá dela... Como rezava a minha mãe! Se reza valesse, todos os pecados do mundo estavam perdoados... Inclusive o meu... o meu pecado! E o meu pecado foi ser boba... ingênua... Tinha um namorado... um rapaz pobre, mas de futuro... trabalhador... acho que exagero nesse futuro... mas, em todo caso, tinha lá seus méritos... méritos que acendiam meu fogo cada vez que nos beijávamos... que nos agarrávamos no escurinho... perto de casa... ah! era bom... tão bom... que, um dia, chegamos às vias de fato... e nos distraímos... Aí... meu pai... o pobre homem...

 HOMEM (empurrando e socando o imaginário namorado):- Eu te mato... desgraçado... E você, sua vadia... (esbofeteia a Mulher, ela cai) Em minha casa não tem lugar pra vadias... Te esconjuro... demônio... (pega-a pelos cabelos e arrasta-a) vou te levar pra zona... sua puta... lá que é seu lugar...

MULHER: - Não, meu pai... por favor... não... perdão... perdão...

 HOMEM: - Pra zona, sua vaca... sua vadia... pra zona... (arrasta-a por alguns instantes).

 MULHER (recompondo-se, enquanto Homem volta à obscuridade):- Meu pai... um bom homem... compreensivo... um exemplo de pai e marido... pobre... pobre de grana e de espírito... ele... ele me levou pra zona... pra ser meretriz... Eu? Eu era jovem... bonita... muitos me desejavam... os desgraçados... cidade pequena... a notícia correu... carne nova na zona... e que carne! Nos três primeiros dias, fizeram fila na zona... fila pra me comer! Os desgraçados...

 HOMEM: - Isso não é jogo...

 MULHER: - Não, seu imbecil... é vida...

 HOMEM: - Mas, não te entendo...

 MULHER: - Na zona... foi na zona que eu conheci o meu marido... Ele me tirou de lá...

 HOMEM: - Prostituta... você me enganou... Piranha, maldita... Piranha... maldita... mal...di...ta... E eu... eu te amo... Eu te odeio...

 MULHER: - Agora é tarde: ouça!

 

 (Liga um gravador, tirado do baú, e uma voz metálica toma todo o espaço).

  

VOZ :- A maja era uma personagem particularmente urbana, exclusivamente espanhola, conhecida por ser um tipo boêmio, que se vestia com um colete apertado com mangas, mantilhas de renda e tinha um comportamento abertamente sexual e flertador. Ao pintar sua Maja Desnuda, Goya dá ao  tema do nu, que era raro na pintura espanhola, um tratamento descompromissadamente honesto e socialmente provocativo, ao incluir o pêlo pubiano feminino. Parece que, antes de Goya, a mulher, principalmente a espanhola,  não tinha pêlos pubianos.

 MULHER (voltando-se para o Homem):- Você... você está me julgando...

 VOZ: - Goya também pintou o Saturno, em sua fase negra... um Saturno selvagem, louco, dominado pelo desespero de devorar seus próprios filhos...

 MULHER: - Loucos... loucos foram todos aqueles que me devoraram naqueles dias... matilha de cães famintos... a uivar por um naco de carne... Pêlos pubianos!... Quem se importa com isso? Quem se importa com esse Saturno, quando foi devorada como um naco de carne pela vida?... Quem se importa com um pintor louco de uma Espanha de trevas e inquisições?!... As trevas estão no seu coração, ouviu? Em seu coração!

 VOZ: - A guerra... a guerra, ao julgamento de Goya, era o mergulho do homem no seu próprio inferno, nas trevas da ausência total da razão... simbolizado - esse inferno - em corpos mutilados,  em cabeças cortadas e esgares agônicos de pânico...

 MULHER: - No meu corpo... tão jovem... quase virgem... corpos limpos, sujos, podres, mutilados, belos, enormes, leves, puros... corpos violentamente enfeitiçados... num sabbath de todas as bruxas... fizeram sua própria guerra... E eu sou apenas aquela que um dia não soube dizer não!

 HOMEM (aproximando-se dela):- Ouve, teus delírios me ensandecem... a aurora se aproxima... fiquemos atentos...

 MULHER: - Não haverá aurora... se não lutarmos para alcançá-la!...

 HOMEM: - Aurora? Aurora é futuro... que futuro nos espera? Somos apenas bestas que digladiam... nunca chegaremos...

 MULHER: - Chegaremos... ah! Chegaremos, sim... Aqui, dentro de mim, explodem auroras... explodem vidas... Eu tenho em mim o fogo, eu tenho em mim os sonhos... o passado e o futuro... Ouviu? O passado e o futuro...

 HOMEM: - E deixas para mim apenas a possibilidade do presente...

 MULHER: - Sonho... eu sou feita dos sonhos... O meu lado obscuro busca a vida... para deixar de ser obscuro... Eu te amo e te odeio... eu te respeito e te chuto a bunda... não representas nada para mim, se negas a ti mesmo, se negas o teu lado obscuro... Eu não nego nada... nada... eu sou negra, eu sou branca, eu sou índia... eu sou o ouro e a merda... sou linda... sou horrível... dentro de mim eu me busco e me arrebento... Louca, talvez... mas sempre lúcida... percebo tudo... vejo tudo... morro dentro de mim, para gerar os filhos que não sabes fazer... Bruxa ou rainha, nas areias do deserto ou  nas grotas, filha amaldiçoada ou esposa traída, eu sou sempre aquela que teve coragem... eu sou sempre aquela que ousou... O teu ato de coragem, o ato que sujou de sangue tuas mãos não são nada, meu amigo, nada...

 HOMEM: - Basta! Já fomos longe demais... nossas diferenças...

 MULHER: - Sim! Nossas diferenças... ainda há muito em que mergulhar... para sermos iguais!

 HOMEM: - Caminhemos juntos, soframos juntos, conquistemos juntos... mas iguais, nunca!

 MULHER: - Temes?

 HOMEM: - Por ti, não por mim...

 MULHER: - Covarde!

 HOMEM: - Lúcido...

 MULHER: - Lúcido a puta que o pariu...

 HOMEM: - Não vês?... Não percebes?... Tu não podes almejar uma nova queda do paraíso!

 MULHER: - Paraíso! Jogaste-me no inferno e chamas a isso de Paraíso!... Falemos da guerra!

 HOMEM: - Da guerra? Não te entendo...

 MULHER: - Sim! É preciso exorcizar esse fantasma! Nunca fizemos a guerra, somente sofremos suas conseqüências... Agora vamos conquistar essa fronteira...

 HOMEM: - Enlouqueces... A guerra está lá fora, não a tragas para dentro de ti... Não foi para isso que nasceste! 

 MULHER: - Joguemos mais uma vez... Vem! Esse é o teu jogo preferido...

  

(Retira do baú roupas militares e armas, veste-as juntamente com o Homem).

  

MULHER: - Quando criança, brincavas de cowboy, matando índios no oeste selvagem... enquanto eu, ora, eu espetava minhas bonecas de pano com agulhas envenenadas... assim desenvolvi antídotos à tua selvageria... e infernizei tua vida... O teu corpo era a tua força... Mas a minha força tu nunca entendeste... estava aqui (aponta para a língua) e aqui (aponta para o ventre)... gerando homens que geraram outros homens e outras mulheres... Não, nunca percebeste que nós é que os educamos... que os criamos para a guerra... para a morte...

  

(Uniformizados, simulam uma batalha, arrastando-se ao chão, jogando granadas ou atirando com armas de fogo, reais ou imaginárias. Ao final, numa luta corporal, o Homem estupra a Mulher. Há um instante de silêncio, quando o ruído da multidão ao longe começa a ser ouvido novamente).

  

MULHER (desvencilhando-se do Homem): -  Cumpriste, mais uma vez, teu melancólico destino... Toda essa loucura ridícula... Mas ouve... eles se aproximam... É a hora...

 HOMEM: - A arena está dividida e os leões estão à solta... Vem... Fujamos... Já não há mais segurança neste abrigo...

 MULHER: - E talvez em lugar algum... Vamos!

  

(O quadro da Maja é suspenso e pelo espaço que ele ocupava aparece uma espécie de túnel de fundo infinito, por onde eles saem correndo e desaparecem. O ruído feroz da multidão aumenta assustadoramente).

  

(Goya - Maja desnuda)

FIM            

s.p.18.3.97

Sexta-feira, 24 de julho de 1998 (versão final).

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